Sunday, December 14, 2008

PQP os aeroportos

Odeio aeroportos, acho que já aqui o disse antes. E odeio viajar em épocas de rebuliço nos aeroportos, como por exemplo Thanksgiving nos Estados Unidos, Agosto em geral ou... Natal na Europa.

Felizmente que hoje já não se vê o espectáculo que era normal há uns 10 anos nos aeroportos de Paris do pessoal com galinhas e coelhos a entrar no avião e o aeroporto feito quinta. De qualquer forma, viajar na época natalícia é trágico. Eu deveria saber disso e, quando marquei o meu voo, deveria ter desconfiado das 2 escalas e ter optado pelo mais caro mas imensamente mais conveniente voo directo. Consequência: estou a 2h de entrar no meu 2º voo atrasado e o atraso do 1º já me fez perder um avião. Em total, desde que saí de Boston já passei 18h em aeroportos. Como ainda por cima resolvi fazer directa na noite antes de viajar para me despedir do pessoal em Boston e fazer a mala com tempo, já não vejo uma cama há... deixa fazer as contas... 54h. E como na quinta-feira dormi 2h, levo 6h de sono nas últimas 96h de vida. Como é adorável o natal.

Para cúmulo, os senhores da Iberia acham normal os seus voos atrasarem-se 1h30 e não só não pronunciam uma única expressão de desculpa como ainda acham que não devem pagar pelos custos do atraso. Obviamente, substimaram o humor de alguém que não dorme há 54h. E lá puxei do meu melhor espanhol e disse ao senhor para ir apanhar no rabinho se quisesse mas para antes deixar o cheque e pardon my french. O senhor corou, tentou esboçar uma resposta mas deve ter achado que a retaliação podia ser ainda pior e lá me pagou.

Como murphyano convicto, não duvido que as coisas pudessem ser ainda piores. Por exemplo, as coisas correram bem com as bagagens porque ainda está toda comigo. Claro que só uma é que viaja no porão e essa hoje chegou 1h mais tarde que o dono. Mas mesmo assim não é mau. E outro exemplo, o voo por que aguardo neste momento podia atrasar-se ainda mais. Há razões para o optimismo.

4x4x4?4

This is an adventure of fours. 

The 4th of January sets the kick-off of our project, the day we all arrive in Uganda. By we I mean the 4 MIT students who will be working with URI in Mbarara, in the southwest of Uganda. The 4 of us represent 4 different nationalities: Emily from the US, Sarah from Australia, Andres from Venezuela, and myself from Portugal. We will spend 4 weeks in Africa, although one of those will be dedicated to chilling somewhere around. And the last 4, the number of countries we will be visiting: Uganda, Rwanda, Tanzania, Kenya.

Oh, I forgot a last 4, hopefully the 4 that will be back in Boston in February :)

Friday, December 12, 2008

Fim de semestre

Hoje terminei oficialmente o meu 3º semestre do MBA depois de 3h de exame de finanças. Para minha infelicidade, isso significa que já só falta 1 semestre para isto terminar. Estou deprimido.

Lá fora chove abundantemente e não me apetece pensar na mala que tenho que fazer para 1 mês e meio e 3 geografias diferentes. Ah! E que caiba tudo numa carry-on para não ter que fazer check-in. Criatividade...

Vou conseguir sair de Boston este ano sem ter visto neve, um upgrade significativo face ao ano passado quando, a estas alturas, já contávamos a neve em metros. E depois só volto ao frio em meados de Fevereiro, sweet!

Vou fazer a mala. Ugh :(

Tuesday, December 9, 2008

Não é por ser Natal

Mas aqui fica uma recomendação. Acabo de terminar aquele que penso foi o melhor livro que li este ano. Vai daí, achei que devia partilhar.

Em breve, o livro retoma o tema da utopia, Shangri-La, um convento em pleno planalto tibetano onde um grupo de monges de diferentes nacionalidades vive sob o princípio do uso da moderação em todas as suas atitudes. A história de um pequeno grupo que aí chega, aparentemente por acaso, e a sua transformação às mãos dos monges leva-nos à reflexão sobre o que é realmente a felicidade e os custos de manter uma comunidade que, pelo menos à primeira vista, parece perfeita.

Penso que existe uma versão traduzida de seu nome "Horizonte Perdido".

Friday, December 5, 2008

Portugal no divã

Parece que desde que comecei a pensar no assunto, que não foi há tanto tempo, a matéria de reflexão não pára de crescer. Hoje lia um artigo do Lourenço Viegas, crítico gastronómico, e ele dizia “o problema é conseguir que um grupo de portugueses reconheça que lhe aconteceu qualquer coisa boa num ano e, ainda por cima, agradeça publicamente por isso. Muitos preferiam ser colonoscopizados na mesa da sala de jantar a mostrarem-se gratos em frente daquela gente toda por alguma coisa”. Acho que acertou em cheio.

Espero que os psicólogos me perdoem mas vou sentar Portugal no divã e tentar traçar o quadro patológico. Começo por eliminar o ruído, os tiques comuns a todos os países que eu conheço, apesar de nós (e os outros) dizermos “Isto só aqui”. E o ruído inclui dizer mal dos políticos, não importa a sua valia ou o que possam ter feito, pensar que somos os maiores antes do Mundial e os piores depois de perder, gostar de espreitar pela fechadura da porta do vizinho, olhar para os resultados de curto prazo mas dizer que o importante é o longo prazo. Estarei com certeza a esquecer-me de outros mas penso que estes são os importantes.

Então o que resta? Posso resumir o problema a quatro manifestações primárias. Decidi eliminar sintomas típicos da vasta cultura latina e que são comuns a outras nações. E ao mais puro estilo consultor, penso que estas quatro manifestações cumprem a regra MECE (mutuamente exclusivas e colectivamente exaustivas).

Classista. No fundo, toda a gente gostava de estar numa monarquia onde, naturalmente, deteria algum título nobiliárquico. Como estamos numa república vingamo-nos nos Dr, Eng, Arq e afins para, obviamente, espezinhar aqueles que são simples Sr. E sempre que tem oportunidade, o português lá envia mais um sinal à sociedade que está num patamar superior: seja o carro maior que o vizinho, o gabinete 2 metros maior ou o dente de ouro.

Queixinhas. Poderíamos dizer também negativo. Não é pessimismo e nem sequer sentido critico, é puro queixismo. Como dizia o Lourenço Viegas, antes um tubo pelo rabo a dizer que alguma coisa vai bem na vida. Dizer mal pelo prazer de dizer mal. É uma das características que mais odeio numa pessoa, a auto-complacência à espera da compaixão alheia. Não terão a minha.

Passivo. O português queixa-se mas não faz nada por mudar. Acomoda-se e continua a queixar-se. Diz mal do carro novo do vizinho mas não pensa como pode conseguir um igual. É governado por um ditador mas não o tenta derrubar. Tem um emprego de merda mas não procura um novo. E vai olhando para a sua aparente ou real desgraça como se de uma fatalidade se tratasse.

Medroso. Não se fazem as coisas por aquilo que pode correr mal. Há quem lhe chame pessimismo ou aversão ao risco, eu chamo medo. E distingo entre um corajoso e um temerário. Ninguém pede temerários, apenas corajosos. Aos medricas pode-lhes acontecer duas coisas: nada ou borrar-se nas calças. Mais tipicamente acontece o primeiro e obviamente quando nada se faz nada acontece. E virá alguém dizer: também não acontece nada de mau. Ao que eu respondo: o problema é que não acontece nada de bom. E um tipo corajoso sabe avaliar quando é que as probabilidades de acontecer algo negativo são demasiado altas para arriscar o pelo.

Naturalmente que os portugueses têm imensos aspectos positivos, mas estes quatro representam um forte lastro que têm, em minha opinião, atrasado o país de forma considerável.

As boas notícias é que estes aspectos são reversíveis, pelo menos na opinião do optimista que eu reconheço que sou. Como? Chama-se educação. É possível educar as nossas crianças a ter uma atitude positiva, pró-activa e corajosa. E se nas escolas se perder a fleuma e se criar uma relação de maior proximidade entre professores e alunos também estaremos a ajudar a remover o sistema de classes.

Enquanto isso não acontecer eu não vejo possível reverter um ambiente económico e social depressivo onde dificilmente as empresas podem ser competitivas. Porque as empresas são, em última análise, pessoas. E quando entramos no ciclo vicioso da queixa, atitude passiva, medo dificilmente se consegue transformá-lo num ciclo virtuoso. Individualmente é possível, basta querer e tentar. Mas a nível de uma sociedade é complexo.

Fica a reflexão.

Tuesday, December 2, 2008

Uma questão de timing

Problemas de timing. Como é que eu me esqueci desta personagem no meu post anterior? Segundos depois de o escrever li esta obra de arte. Este senhor é muito mais criativo que eu. I rest my case!

Fechemos a loja

Não sou psicólogo nem aspiro a sê-lo mas esta semana algumas leituras jornalísticas e outras discussões na blogosfera deixaram-me a pensar sobre a forma de retratar o perfil psicológico do país. Quando falo do país falo das pessoas que o ocupam e, naturalmente, corro o risco de generalizar mas seria fastidioso estar a analisar o perfil de cada um dos cidadãos. Facilitismo? Talvez… Mas esta reflexão exige mais tempo, talvez para o próximo post, talvez para a próxima semana.

O tiro de partida para esta reflexão foi dado por uma série de artigos de opinião que têm sido publicados em jornais que considero de referência e blogs de gente que julgo competente. Esta gente retrata aquilo que eu vejo como próximo do apocalipse. Estando eu a menos de um mês de visitar a terra mátria (crédito para o Pe. António Vieira por esta), fico a pensar no cenário de caos e terror que me espera.

Eis o Portugal pelas lentes de um emigrante.

Começamos pela crise que não vai deixar pedra sobre pedra. Os bancos vão desaparecer, o crédito vai deixar de existir e a única boa notícia é que deixamos de ouvir o Paulo Portas pedir todos os dias a demissão do governador do Banco de Portugal.

As escolas são hoje uma espécie de fusão das favelas da Rocinha e da Babilónia num terço do espaço. Os professores agridem ministros e os alunos batem nos professores. Espera aí, não devia ser ao contrário? Está mal. Os professores deveriam ser autorizados a andar armados, a velha regra do oeste reduziria de uma assentada o insucesso e o abandono escolares porque eliminaria essa escória que pulula nas escolas. Por escória entendamos os alunos, claro!

O governo é autoritário, autista, incompetente, uma besta portanto. E vai à frente das sondagens, o que só deixa claro que os portugueses são incompetentes para escolher quem os governa. Esta teoria credito-a à Manuela Ferreira Leite mas há várias almas por aí que pensam o mesmo mas não o dizem. Infelizmente a ideia da MFL não é nova e já foi testada noutros países, conheço os casos da Coreia do Sul e de Singapura. Mas nós não somos asiáticos. Que chatice!

Por falar em MFL, o principal partido da oposição (de momento) está em risco de extinção. Pelo menos desde há um ano ao que parece, o que indica uma extinção lenta, assim como a do sol. O verdadeira caos político.

A saúde vai de mal a pior. Os hospitais portugueses são piores que tendas hospital em tempo de guerra. Como tal a solução é acabarmos com o SNS e irmos todos para o privado. Claro que quem propõe isto não tem dois dedos de testa para se lembrar de deitar uma olhada aos Estados Unidos e ver no que essa aventura pode resultar. Mas porque raio é que o SNS não funciona como os sistemas de saúde dos suecos e dos noruegueses? Se calhar porque não somos suecos. Ou seja, nem asiáticos, nem suecos.

Acho que aí está o nosso problema. O problema do país é que é habitado por portugueses. Se ainda fossem suecos, ou coreanos. Ou talvez mesmo espanhóis. Heresia! Parece que o presidente das Ilhas Maldivas está à procura de um pedaço de terra para onde mudar a nação quando o nível das águas do mar submergir o arquipélago. Não é tanga!

Eis a minha solução. Com os dotes de vendedor que o Sócrates já demonstrou a vender o Magalhães (nunca o nome da família apareceu tanto nos jornais), façam-no promotor imobiliário, mandem-no para o Índico e verão que ele conseguirá vender a nossa terrinha ao melhor preço. Haverá forma mais honrosa de fechar o tasco do que passá-lo a uma nova gerência?

Saturday, November 29, 2008

Mission assigned: Uganda


© Lonely Planet

© Lonely Planet

Esta semana foi-me finalmente confirmado o meu projecto de Inverno. E como tal, passarei o mês de Janeiro inteirinho no Uganda, a trabalhar com a URI (Uganda Research Initiative), uma organização que financia investigação na luta contra a SIDA. Eu bem andei de olho num outro projecto, no Rwanda, com a Comissão Nacional de Luta contra a SIDA mas este acabou por ser abortado. De qualquer forma, este projecto tem uma pinta do catano e acho que vai dar para contribuir imenso.

O final de mês de Dezembro vai ser um teste à minha resistência ao jet lag, que eu tenho por excelente. No dia 29 de Dezembro saio do Porto com destino a San Francisco para passar o ano com a Japi. Como tenho o fuso a meu favor chego a San Francisco ainda no dia 29 depois de passar por Madrid e Miami. No dia 3 de Janeiro saio de San Francisco com destino ao Uganda, com passagem prévia pelo Dubai e vista aérea do sudoeste asiático. Aí o fuso já não me acompanha por aquela cena do Pacífico onde de repente estamos no dia seguinte sem darmos conta. A mesma cena que garantiu ao Phileas Fogg e ao Passepartout ganhar a aposta dos 80 dias à volta do mundo porque eles vinham ao contrário. E eu, com o meu regresso a Boston em Fevereiro farei a minha particular volta ao mundo em... 40 dias.

Mas bom, chegando ao Uganda assentarei arraiais em Mbarara, no sudoeste do Uganda na fronteira com o Rwanda. Parece que é uma região pobre onde vamos ter contacto directo com a população beneficiária da investigação da URI (ou seja, SIDA e malária predominantemente).

Obviamente nem tudo é trabalho e durante o tempo que passar no Uganda vou aproveitar para viajar pelas redondezas. Já temos planeado rafting no Nilo Victoria (uma das nascentes do Nilo), visitar os gorilas na fronteira com o Rwanda, ver a maior migração de animais selvagens do mundo na Tanzânia e talvez aproveitar a visita à Tanzânia para subir o Kilimanjaro. Veremos...

Friday, November 28, 2008

Natal antecipado

Ontem foi natal antecipado aqui na América. Natal antecipado porque é a festa da família por excelência aqui, quando toda a gente voa para a terra natal para comer o perú com todos. E como é óbvio, os caipiraus não quiseram ficar atrás da tradição e seguiram a tradicional ceia festiva. Perú assado, puré, miúdos, cranberry sauce, pumpkin pie, etc, etc.

E hoje, enquanto toda a gente está em casa a comer os restos e a digerir os excessos do dia anterior, as lojas lançam o Black Friday. Promoções para todos os gostos em todas as lojas. Viva o consumismo. Claro que a é nestas ocasiões que a crise se faz sentir com mais força e ao que parece este é um dos piores Black Fridays desde há décadas com as vendas a cair 30% em relação ao ano passado. É que o pessoal já gastou o dinheiro todo no perú...

Isto é que vai uma crise!

Saturday, November 22, 2008

New York, New York

Cheguei ontem à noite a NYC para um fim de semana mais alongado e aconteceu-me aquilo que muitos outros testemunharam antes de mim: esta cidade atrai por razões desconhecidas. Mesmo antes de mergulhar na noite colérica ou experimentar um dos muitos óptimos restaurantes, eu já estava a pensar onde é que afinal quero viver nos próximos tempos.

Porquê New York? É essa a pergunta a que tenho tentado responder durante todo o dia. O hotel onde estou hospedado, o Millenium Hilton, mesmo em frente ao World Trade Center, oferece-me um contínuo ruído das máquinas que furiosamente tentam transformar em tempo recorde o Ground Zero na nova coqueluche da cidade. E como nem sequer tive um dia extraordinariamente ocupado, tive tempo para passear nas ruas onde pude novamente comprovar que esta é uma cidade stressada, ruidosa, fria, mesmo gelada nesta altura do ano. E ainda assim, estou aqui a pensar se de facto a Califórnia ou DC são melhores que esta realidade.

Daqui a pouco vou sair para jantar e depois copos e obviamente esta parte do programa só vai ajudar à confusão. Vou continuar a minha reflexão e se chegar a alguma conclusão registá-la-ei aqui.

Wednesday, November 19, 2008

Futebol em UCLA



Este fim de semana fomos jogar o torneio de UCLA em Los Angeles. Óptimo para fugir ao frio que se começa a sentir em Boston. 30 graus e muito sol foi o tempo que nos recebeu na Califórnia.

Desportivamente não se pode dizer que tenha sido um grande êxito. Eliminados nos quartos de final por penaltis depois de um festival de golos falhados e 3 bolas ao poste. Ainda não foi desta que ganhámos um torneio este ano.

A vantagem é que houve mais tempo para gozar a praia. O pior é que o meu dedo grande parece que saiu mal tratado do último jogo. Micro fractura e pelo menos um mês de recuperação pela frente é o balanço. Eu bem dizia que me doía...

Wednesday, November 12, 2008

Desanuviando

Estou de entrevistas até ao pescoço. Hoje estive 6h num escritório a ser inspeccionado. Vamos ver se me dão o selo verde.

Há quem vá de compras para libertar o stress, eu reservo viagens. Os últimos dias têm sido profícuos neste aspecto e assim já comecei a desenhar o meu próximo calendário de viagens. Gosto particularmente de ver o meu mapa mundo preenchido em toda a sua largura :)
  • Próximo fds – Los Angeles
  • Thanksgiving (27-30 Nov) – Miami (?)
  • Natal – Porto
  • Passagem de ano – San Francisco
  • Janeiro – Rwanda, Tanzânia, Uganda
  • Valentine’s Day – Austin, Texas
  • Spring Break (Março/Abril) – Austrália e Nova Zelândia
  • Fim de curso (Maio) – British Virgin Islands
Estou para ver como se sentirá o meu corpo depois de fazer, em pouco mais de 2 semanas, Boston, Porto, San Francisco, Amesterdão, Rwanda. Quando lá chegar enviarei um breve estado da nação.

Ainda faltam preencher alguns espaços mas à medida que forem surgindo ideias eu irei fazendo o upload. De momento vou pensado na toilette mais adequada para a noite de LA.

Saturday, November 8, 2008

Irá a crise económica mudar algo nas nossas vidas?

Acho que já poucos negam hoje que estamos em crise. Corrijo. Tirando o nosso PM, já ninguém hoje pensa que não estamos em crise (até o Zapatero finalmente percebeu!). A grande questão que todos se colocam é quais os efeitos de longo prazo que esta crise trará às nossas vidas.

A geração actual habituou-se a gastar mais do que deve e muitas vezes mais do que pode pagar. Os factos são indesmentíveis:
  • A dívida externa americana duplicou nos últimos 20 anos e é hoje 300% do PIB. Em Portugal esse número anda pelos $460 biliões, algo acima dos 200% do PIB, o que nos coloca no Top20 dos países mais endividados em termos absolutos (não exactamente algo de que nos possamos orgulhar).
  • As famílias poupam cada vez menos, isto quando chegam a poupar alguma coisa. Em Portugal o endividamento das famílias era de 130% há um ano.
  • Alegremente, os países ocidentais vivem à custa da generosidade de países emergentes, como a China, que continua a emprestar dinheiro a rodos. Na última década, a proporção de dívida pública americana detida por estrangeiros passou de 20% para 60%.
Como isto agora rebentou, e nem sequer pelas melhores causas já que foi mais por uma crise de confiança que por um problema efectivo de sobre aquecimento, não faltam profetas que já vêem mudanças civilizacionais a sair desta crise.

Apesar da crise estar para durar mais algum tempo (apostei esta semana que os mercados se começarão a levantar para finais de 2009), eu quase ponho as minhas mãos no fogo que pouco ou nada irá mudar no estilo de vida das pessoas. Talvez os bancos tardarão a voltar a emprestar com a facilidade com que o faziam até agora, mas uma vez assentada a poeira tudo voltará ao mesmo. E se não for a China a emprestar, outro virá para sustentar o estilo de vida ocidental.

O curioso das crises é que, apesar de repetirem os mesmos padrões ao longo dos tempos, quando que acontece uma é sempre a pior, mais devastadora e definitivamente aquela que irá mudar o paradigma actual. Não sei se ainda se lembram que esta crise tinha matado o capitalismo. Isso era só há um mês atrás e era capa da Economist, que não é exactamente o Tal & Qual. No entanto o capitalismo continua vivo, algo cambaleante ainda mas sem dúvida fora da UCI.

No fundo as crises económicas são a expressão mais viva de que o capitalismo é darwiniano: “It is not the strongest of the species that survives, nor the most intelligent that survives. It is the one that is the most adaptable to change”. E curioso ainda que normalmente as primeiras a morrer são aquelas que cometeram os mesmos erros que, depois da última crise, todos juraram não voltar a cometer. E sobre isso recomendo a leitura deste artigo sobre a crise em Silicon Valley.

O Vazio

Vou continuar a falar de política neste blog. Tendo eu estado na América (ou nos EUA) durante o período de eleições e primárias, era com alguma expectativa que aguardava o discurso de vitória do preto escanzelado. Era a primeira vez que um preto magro chegava à Casa Branca. Afinal, há esperança para todos aqueles que têm um metabolismo acelerado.

Ouvi o discurso do Mac. E o Mac fez um discurso digno, aquilo que se espera de um derrotado com sentido de Estado. Em Portugal fizeram um grande alarido do discurso de derrota do Mac e não sei bem porquê. O Mac assumiu toda a culpa da derrota! Mas que raio esperava o povo que ele fizesse? 'A culpa foi toda da Palin que não sabe que os ursos polares não migram para a Rússia!'. O discurso do Mac foi normalíssimo! Excluindo África e a Venezuela, alguém ouviu alguma vez um discurso de derrota menos digno que este? Não sei que esperava o povão.

E depois veio o discurso de vitória. E o Barack Obama de repente virou o Reverendo Obama. O discurso foi do mais vazio que se poderia esperar, totalmente virado para o sentimentalismo tosco e básico. Eu, que sou ateu convicto, fiquei com os pelos em ponta quando comecei a ouvir o Rev. Obama a repetir 'Yes we can' como se de uma oração dos fiéis se tratasse. A religião não é comigo e achei o discurso de mau gosto. Mas como dizia a Japi, que mais podemos esperar de alguém que baseou toda a campanha em 'Hope and Change'?

Hope é o que todos temos neste gajo de metabolismo acelerado...

Friday, November 7, 2008

Carago pró Google!

Parece que a longa letargia afectou a bonecada do blog. As imagens desapareceram todas e eu não tenho as antigas. Vou ter que reinventar essa bonecada toda. Aceitam-se ideias para novo logo. Por falar em Google, eis mais uma pérola da tradução googliana. 
Esta semana foi o aniversário da Japi e alguém escreveu no postal de aniversário (não perguntem porquê):
- permisso pedir nu!
- Desculpa, qué qué isto??
- I googled 'Let's get naked'
No comments...

Saindo da letargia

A inspiração não escolhe lugar, tempo ou contexto. Eu, como artista de blog que sou, sofro desse problema e é assim que o Caipirau entra em longos períodos de hibernção. Tal como este último.

Para quem lê o blog e não conhece o verdadeiro artista poderia pensar que eu tinha sido engolido pelas areias brasileiras. Não foi o caso, os restantes dias das viagens pelo Brasil ficam para outra altura. O que me traz aqui hoje, aquilo que me fez sair da hibernação, foi algo extraordinário. Foi a Politica.

E eventualmente pensam vocês que eu vou falar do preto escanzelado que finalmente conseguiu cumprir o sonho americano. Apesar de ser de assinalar a primeira vez que um preto magro chega ao poder nos Estados Unidos, eu venho falar de dois factos políticos quiçá de maior relevância e peso.

Facto 1. O Santana “Penteadinho” Lopes é candidato à Câmara de Lisboa. Ao contrário de TODOS os outros cargos que ocupou até ao momento, desta vez é para ficar. E não é para ficar só até ao fim, é para 2 mandatos. Sim! 8 anos porque ele é um homem de palavra. Portugal já pode rivalizar com a Itália na corrida pelos maiores despropósitos políticos. Que este senhor tenha a cara de pau para se apresentar à maior Câmara do pais é lá com ele. Que um partido relevante como o PSD o apoie já me parece mais triste. Minto, não é triste, é penoso. Mas o pior é que, talvez na única tirada com sentido do penteadinho, se ele não tivesse opções de ganhar não se teria feito tanto ruído, e aí está o maior problema. Que o penteadinho possa ganhar a Câmara de Lisboa é uma razão para eu continuar emigrado por vários anos. Pior que isso só a Sarah Palin a governar os Estados Unidos. Ou não...

Facto 2. Alguém mal intencionado pegou no orçamento de estado (imagino que na única cópia que o próprio PM ou o ministro das finanças guarda na mesinha de cabeceira) e mudou a lei de financiamento dos partidos para que estes pudessem lavar dinheiro à vontade em ano de eleições. Já não há respeito pelas figuras de Estado. É preciso ter lata para entrar no quarto do Sócrates a meio da noite, gamar a pen, mudar o orçamento e voltar a pôr a pen na mesinha de cabeceira. Obviamente, isto só pode ser feito porque o PM, dada a sua dedicação ao país, dorme profundamente durante as poucas horas de sono de que dispõe. Mas não é só o PM. Do comuna Jerónimo ao comandante Portas, ninguém abriu o bico. O Portas já se via a ressuscitar o famoso “Jacinto Leite Capelo Rego” a depositar os seus milhões em cash. O curioso, e isto vem a propósito do Facto nº1, é que se isto tivesse ocorrido no tempo do penteadinho a imprensa tinha-lha caído em cima (com razão). Porém, e não sei eu porque carga de água, com o Sócrates toda a gente toma a hóstia e diz Ámen quando o senhor vem dizer que foi um lapso.

Enfim, há alturas em que não tenho grande orgulho de ser tuga. Um desses momentos aconteceu recentemente quando vi o PM a vender computadores na cimeira Ibero-Americana. E poderia continuar mas acho que para primeiro post depois de tanto tempo isto já é suficiente. Estou de volta. Até breve.

Thursday, August 28, 2008

De férias no Brasil – Dia 6 – Lençóis Maranhenses

A visão avassaladora dos Lençóis

E a escala da nossa pequenez no meio das dunas

Onde se meteu o guia?

O aviãozeco que nos levou a sobrevoar os Lençóis

E a vista aérea. Imensidão, lagos perfeitamente desenhados e dunas a perder de vista

Nunca me esqueço da minha primeira impressão de Paris ser avassaladora. Eu era pequeno e viajei para Paris com os meus pais. Já tinha visto dezenas de fotos da torre Eiffel e sabia que era grande mas quando cheguei aos seus pés e olhei para cima lembro-me de ficar a pensar que aquilo era hiperbolicamente monstruoso, de uma dimensão que eu jamais pudera imaginar. Claro que depois de lá viver e subir 7 vezes em 6 meses à dita torre aquilo já me parecia mais uma repartição das finanças na qual a minha única preocupação era saber se a fila de espera era grande ou pequena.

Vem isto a propósito dos Lençóis Maranhenses, o meu destino após o Rio. Eu já tinha visto centenas de fotos, lido e ouvido dezenas de testemunhos sobre as maravilhas deste lugar mas nada me tinha preparado para a imensidão deste deserto molhado. Mas comecemos pelo princípio.

O despertador tocou às 5h30 e parecia que tínhamos dormido 20h tal era a vontade de sair para os Lençóis. Sabíamos, graças à noitada do dia anterior, que o sol nascia às 5h30 e por isso quisemos sair para o Parque quanto antes, até porque o calor e os turistas começariam a apertar a partir das 10h. Às 6h o nosso guia estava à porta da pousada e lá partimos.

O caminho até ao Parque dos Lençóis já não tinha novidade, mais trilho de dunas e areia mole. O carro parou e parecia então que tínhamos chegado à porta dos Lençóis. Sai do carro e sentimos uma brisa fresca. Óptimo para caminhar. Subimos a primeira duna e ‘Ohhhhhhhhhh!!’. A primeira imagem com que nos deparamos do cimo da duna é impressionante. O deserto. Até onde a nossa vista alcança só se vêem dunas de uma areia imaculadamente branca. Só que, em vez do deserto normal, este tem lagos de uma água verde cristalina. O exotismo é extremo. O que acontece neste deserto é que entre Abril e Junho vem a época de chuvas. Nessa altura as depressões criadas pelas dunas acumulam água, que por sua vez desenvolve algas que tornam a água verde. Julho e Agosto é por isso a melhor época para visitar o parque já que o nível de água está no topo e o tempo é seco e quente, tal como no deserto. Tirando as lagoas, tudo o mais é como o deserto. Areia, areia, mais areia, dois oásis onde vivem 10 famílias e vento. Nada me tinha preparado para aquilo. Calamo-nos. Tentamos captar os sons. Nada. O silêncio mais absoluto.

O nosso guia insistia em tirar cada foto de todos os ângulos possíveis e nós em que ele fosse embora. Finalmente ele lá foi e nós pudemos apreciar a tranquilidade do deserto a sós. Mas o tempo urgia e fomos a correr para o aeródromo de Barreirinhas onde nos esperava um avãozeco que nos iria levar a sobrevoar as dunas. Do ar a impressão não muda. Imensidão, beleza exótica, avassaladora. As fotos que tirámos não fazem juz à paisagem.

Deixar Barreirinhas custou porque merecia algum tempo mais para apreciar todas as belezas das dunas, do Rio Preguiças, das encantadoras aldeias. Talvez numa próxima vez...

Wednesday, August 27, 2008

De férias no Brasil – Dias 4-5 – Caminho a Lençóis

A tabela de preços da balsa que nos levou para o outro lado do Parnaíba

O caminho entre Tutóia e Barreirinhas. Isto era a parte fácil...

Os camiões que nos levaram até Barreirinhas. Um luxo! 

Chegámos a Fortaleza ao meio-dia depois de 3h30 de voo. Tínhamos um longo dia de viagem pela frente por isso toca de ir ao shopping fazer umas compras rápidas de última hora e rumo a Barreirinhas, a vila de entrada no Parque dos Lençóis Maranhenses. A meio do caminho era já evidente que as minhas previsões de tempo tinham sido muito optimistas e começámos a pensar em alternativas. Ainda para mais soubemos que Barreirinhas não era acessível por carro normal, nem com a nossa brava pickup 4x4. Desvio de percurso, rumámos a Tutóia para entrar pela porta de trás. As horas iam passando e nós continuávamos com um monte de km por fazer. A certo ponto já achávamos que chegar antes das 2h era óptimo.

Às 20h aconteceu a experiência da noite. A Japinha nunca tinha conduzido um carro manual e resolvemos aproveitar a paragem em Sobral, uma vila pequena com ruas suficientemente largas, para as primeiras lições. O carro vai abaixo nas primeiras tentativas mas depois lá arranca. Parar é que era um problema: travão e embraiagem. Nova tentativa e vamos melhorando. Alguns soluços, alguns sobressaltos e estamos já a rodar na estrada onde tudo é mais simples. Quem aprende a mexer na caixa de velocidades da Ranger está preparado para qualquer carro manual. As mulheres ao volante parecem intimidar as estradas brasileiras que, de repente, passaram a ser bem feitas: sem buracos, com reflectores, era a primeira vez que víamos uma estrada a sério.

Parámos em Piripiri para abastecer era já meia noite. Na bomba, a única aberta 24h em vários km, havia 3 pessoas: um que trabalhava (abastecia e cobrava), outro que aparentemente tratava da loja e um terceiro lingrinhas que mal conseguia falar e se intitulava de ‘segurança’. Quantos brasileiras são precisos para meter gasolina num carro? A resposta é 4: o condutor que fica a olhar, o segurança para meter conversa, o indefinido que fica a rondar o carro e o gajo que realmente trabalha.

Aí informaram-nos que tínhamos 140km mais até Tutóia por estrada normal. ‘Mas a estrada é melhor ou pior do que a que tivemos até aqui?’ pergunto. ‘A estrada é boa, não tem buracos nem nada’. Esclarecido, íamos conseguir o objectivo das 2h. Continuámos e eis que, em São Bernardo, a estrada acaba. Damos voltas mas só vemos água à nossa volta. Voltamos atrás, perguntamos à única alma viva que encontrámos qual o caminho.

‘Isso só de barco. A estrada acaba e tem uma balsa que passa para a outra margem’. É meia noite e nós vemos a vida a andar para trás, ou talvez não. ‘A balsa trabalha 24h. Vai lá ao rio, buzina e faz sinais de luzes e a balsa vem buscar-te’. Ok, chegados ao rio temos a tabela de preços: R$5 por carro, 2 euros. Para uma travessia a meio da madrugada pareceu-me um grande preço. Toca a buzinar e vejo um tipo ao meu lado quase a cair da rede onde dormia. Ele entreabre o olho, ruge qualquer coisa ao outro que está na outra rede e o outro levanta-se para tocar um sino. Passado um pouco aparece uma balsa para levar a nossa 4x4 para o outro lado.

Continuamos mas as coisas nunca são tão boas como se pensa e depois de mais alguns percalços chegamos a Tutóia às 5h30, com o sol a nascer. Tutóia foi o primeiro contacto com o Brasil profundo, um vilarejo remoto com meia dúzia de lojas e uns camiões adaptados que nos poderiam levar a Barreirinhas. Talvez porque ainda estávamos meio bêbedos do sono metemos o carro a caminho de Paulino Neves, a porta de trás dos Lençóis só acessível por 4x4. Passados 15 min percebemos que esta coisa do 4x4 significa areia mole, estrada inundada e zero de civilização. O carro até se estava a portar bem mas éramos sem dúvida mais lentos que os profissionais e resolvemos deixar a travessia em mãos desses.

Paulino Neves é ainda mais remota que Tutóia. Ruas de areia, povoada de bugguies e 4x4, os únicos que conseguem chegar ao lugar, casas coloridas e um rio maravilhoso. Ficámos com pena de não ter tempo para conhecer melhor esta aldeola com muita personalidade. Mas tínhamos já o camião para Barreirinhas à nossa espera e lá fomos. Este caminho era ainda pior: dunas, lagos, trilhos estreitos e muito, mas mesmo muitos saltos. Mas isto não era um problema para todos. Enquanto eu usava toda a força dos meus dois braços mais as pernas, as costas e o que houvesse para não cair borda fora, uma miúda de uns 6-7 anos que vinha ao nosso lado não precisava sequer dos braços para se equilibrar. Sentada com uma postura perfeita, costas direitas, mãos debaixo do assento, parecia flutuar naquele camião e nenhum buraco podia perturbá-la. Pode ser que com a prática eu chegue lá.

Chegámos a Barreirinhas com o rabo quadrado e 0h de sono mas satisfeitos por ainda assim ter o horário sob controlo. A pousada era bonita, na margem do Rio Preguiças, um rio tropical que atravessa o parque. A nossa refeição do dia, a primeira desde o Rio, foram uns camarões grelhados com arroz e bobó.

Barreirinhas é outra cidade remota, com ruas de areia e casas coloridas. A ‘marginal’ é lindíssima e foi aí que bebemos uns sumos naturais que nos deixaram a salivar. Tratámos do programa para o dia seguinte e fomos dormir porque já não conseguíamos manter os olhos abertos.

Tuesday, August 26, 2008

De férias no Brasil – Dias 2-3 – Rio de Janeiro

Os 3 no topo do Corcovado a olhar o Rio de Janeiro

Agora sem a cabeça do Gabs a esconder o Pão de Açúcar

A praia de Ipanema e ao fundo Leblon, ainda sem o maralhal

De festa na Lapa com caipirinha na mão

Eram 5h30 quando o despertador tocou. Entre terminar de fazer a mala e deixar tudo pronto para a minha saída para Boston no dia 1 dormi 30 minutos. Acorda, toma um duche rápido e ala para o aeroporto. Menos mal que o voo para o Rio sai de Congonhas, convenientemente instalado no centro de Sampa, não como o internacional Guarulhos.

Escolhemos cuidadosamente os nossos lugares de janela no lado esquerdo do avião para ver o Rio desde o céu. O plano saiu parcialmente furado porque voámos para o aeroporto internacional que não permite um voo tão panorâmico sobre a cidade. Mesmo assim deu para ter um cheirinho e perceber que tínhamos céu limpo e um tempo excelente.

Eram 9h da manhã e eu já estava a fazer check in no hotel, instalado no Arpoador entre Copacabana e Ipanema. Assim se aproveitam os dias :) Fomos dar um passeio pelo calçadão, passando por Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon. Quando chegámos ao Leblon já o Gabs estava acordado. Passámos pelo apartamento dele no Leblon e daí directos para o morro do Corcovado.

Não é por acaso que o Rio é a ‘Cidade Maravilhosa’. As fotos dão uma ideia mas não conseguem transmitir na plenitude a beleza da cidade, uma beleza selvagem com morros apinhados de barracas e bairros de lata, as favelas portanto, que parecem cair sobre os bairros chiques do Leblon e Ipanema, onde há gente que blinda o tecto da casa com medo de apanhar com alguma bala perdida caída do morro. Talvez o Rio não fosse tão belo se fosse perfeito. ‘Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara’. O cantor dizia e não enganava ninguém. Do topo do Corcovado eu vejo a cidade inteira, as favelas e os bairros ricos, os prédios e as praias, a ponde de Niterói e o Pão de Açúcar, toda a grandeza da cidade maravilhosa. Os turistas apinham-se e emulam o Cristo Redentor estendendo os braços para a cidade.

Saímos da confusão e dirigimo-nos para Santa Teresinha. São 18h e ainda não comemos nada para além do snack do avião. O Gabs recomenda e a gente segue. O lugar chama-se Aprazível e temos que interpelar os locais várias vezes até o encontrar. Depois de 15 minutos a subir o morro a pique eis que chegamos ao lugar. O cenário não podia ser mais espectacular. Um conjunto de pequenas casas de madeira com telhado de folha de palmeira com a cidade a olhar com sobranceria a cidade. Três salas de jantar estão penduradas nas árvores, as outras mesas dispostas nos vários cantos da casa, quase todas a olhar para a baía da Guanabara. O cenário não podia ser melhor e a comida só veio melhorar, absolutamente fantástica.

No final, avaliação da Japinha ‘Estou a pensar e se contar como critérios cenário, decoração e comida, este é provavelmente o melhor restaurante em que já estive’. E eu pus-me a pensar e não consegui encontrar nenhum melhor. Haverá melhores chefs e refeições mais delicadas mas dificilmente uma refeição tão memorável como a que tivemos no Aprazível. Aplauso com encore para o Gabs pela selecção.

Passámos pelo hotel para um power nap e daí já saímos para a noite, que prometia. A passagem por Ipanema para um chopp era obrigatória e daí fomos para a Lapa. Sambinha ao vivo era o programa e assim foi. Samba, caipirinha e chopp até altas horas da manhã foi o programa. Claro que a politica de fazer uma refeição por dia tem as suas consequências e quando eram 6h da manhã a fome era insuportável (ou seriam as caipirinhas a falar?) e fomos ao Jobim comer 
uma picanha na chapa com uma mandioca frita. Saudável.

O segundo dia no Rio foi tranquilo. Manhã longa na cama, despertar para a praia. Chegamos a Ipanema e... que é isto?? Há uma tira da Mafalta em que o Filipe olha para o mar e pergunta ‘que te parece o mar?’ e a Mafalda responde ‘sopa de massa’. Acho que finalmente vi sopa de massa no mar. Cada onda era disputada por dezenas de pessoas, o areal era dificilmente vislumbrado por debaixo dos corpos bronzeados dos domingueiros e a massa humana estendia-se até os olhos baterem no morro das Gáveas.

Não desistimos e continuamos a andar. Água de coco na mão, toca a percorrer o calçadão. Já quase a chegar às Gáveas lá encontramos um pouco de praia menos concorrido onde pudemos desfrutar das ondas com alguma paz. Telefone para cá e para lá e encontramos o Gabs na praia. A politica ‘uma refeição por dia’ continua em vigor e vamos ‘almoçar’ às 19h. O lugar desta vez é o Zucca no Lebllon. Mais uma recomendação do Gabs e mais uma na mouche. As comparações são odiosas e por isso vamos apenas dizer que o Zucca é um excelente restaurante, a comida estava deliciosa. O corpo é que já não aguentou mais e os planos de copos em frente ao mar foram para o galheiro. Hotel que amanhã temos um voo bem cedo pela manhã.

Monday, August 25, 2008

De férias no Brasil – Dia 1 – Jun Sakamoto em São Paulo

Apesar de ter estado pouco tempo em Sampa nunca me senti um verdadeiro turista, talvez porque o ritmo de trabalho começou de imediato acelerado. Assim dia 15 era o meu primeiro dia como turista na cidade. Andei às voltas na cidade, fiz umas compras, coisas de turista. Às 16 apanhei um táxi e fui para o Aeroporto com a ideia de esperar a Japinha que chegava vinda de Paris para uma semana de férias prometedora.

Talvez por me armar em turista, Sampa resolveu fazer-me das suas e demorei 2h30 a chegar ao aeroporto. Em vez de ser eu a esperar pela visitante, foi a visitante a secar 1h no aeroporto enquanto o taxista se debatia com o trânsito.

A ideia do primeiro dia de turismo em São Paulo era pura diversão; jantar e copos. A reserva estava feita há tempo para aquele que é considerado o melhor restaurante japonês em Sampa. Estando em SP a maior comunidade japonesa a viver fora do Japão, isto não é uma qualquer banalidade. O jantar foi, de facto, uma delícia com um menu degustação muito equilibrado e com alguns destaques assinláveis (como o atum com foie gras e ovas de salmão, o niguiri de enguia ou o sorvete de maçã verde e gelatina de sake) mas mesmo assim, e apesar do abuso no vinho, a conta final pareceu exagerada. R$650 para 2 pessoas é muito dinheiro em qualquer lado e não fiquei com a ideia que estava ante uma refeição dessas que ficam na memória por muito tempo.

São Paulo é uma cidade desarticulada em vários sentidos. Já há algum tempo atrás falei aqui da questão urbanística mas ela estende-se ao social igualmente. Um amigo tuga tinha dito já há tempos: se não tens dinheiro vive na Europa, se tens dinheiro vem para a América do Sul. De facto São Paulo permite uma qualidade de vida impressionante para os amantes de boa comida, boa festa e bons espectáculos mas o preço a pagar é absurdo tendo em conta o nível geral médio da população. Qualquer restaurante bom em Sampa cobra acima dos R$100 por pessoa, e assim passamos dos lugares realmente baratos (R$20-30 por uma picanha bem servida com cerveja num boteco) para a classe a seguir que só está acessível a muito muito poucos.

É uma cidade sem tronco. Estão lá as pernas, está a cabeça, bem pequena, mas o tronco é raquítico. E isto apesar da classe média em São Paulo ser uma realidade bem visível. Mas essa classe média tem dificuldade em encontrar o seu espaço na cidade.

A noite acabou no Skye, o bar do hotel melancia, um hotel em forma de uma melancia gigante com pevides e tudo. Do bar, que fica no último andar do hotel, temos uma vista privilegiada da cidade. Privilegiada que não bonita. Se bem que de noite Sampa ganha algum glamour, como qualquer mulher feia que conhece os seus defeitos e os maquilha sob esse manto de escuridão a tentar apanhar algum desprevenido que não quer esperar pela luz do dia.

Sunday, August 24, 2008

Último dia do meu summer na BCG

No final da minha primeira semana de férias pelo Brasil acho que é tempo de falar das últimas novidades.

A primeira é que estou de férias :) A outra é que tenho uma oferta para trabalhar a full time em São Paulo a partir do próximo verão (inverno em SP) , o que são óptimas notícias. Vamos ver no que o processo de reflexão dá. A outra notícia é que o meu estágio de verão na BCG já terminou há uma semana. Dia 14 foi o meu último dia de trabalho na BCG (dia 15 foi só mesmo burocrático) e por isso houve festa da grossa. Gostava de ter aqui alguma foto para mostrar mas infelizmente a dona da máquina ainda não mas enviou. Vamos ver se brevemente.

E pronto, a minha primeira experiência paulistana terminou e no dia 1 de Setembro estou de regresso a Boston para mais um ano de MBA. Ou, como diz uma amiga minha que já está a preparar a candidatura para este ano, mais um ano de Disneyland. Vamos esperar que seja pelo menos tão bom como o primeiro.

Wednesday, August 6, 2008

Ah e tal!

Continuo na senda dos vídeos. Desta vez recorro aos nacionais para falar do meu team mate. Todos os dias faço um esforço por não me partir a rir de cada vez que o meu colega de equipa se põe a relatar as reuniões com o cliente. Conversa de ontem (literal, apenas oculto identidade dos envolvidos):

- Então como foi a reunião?
- Foi bem, só que eu estava na reunião e perguntei-lhe
- Ah e tal como é que podem ser estes valores?
- E vai ele e responde
- Ah e tal que são coisas que recebe de outros
- E eu vou e digo
- Mas como é que a gente sabe se são correctos?
- Aí ele vem e põe
- Ah e tal eu posso perguntar mas não garanto porque estas situações são sempre complicadas
- E eu Ah! mas a gente tem que botar um número final no papel

Eu já não podia aguentar mais e tive que sair da sala com a desculpa mais esfarrapada
- Tenho que ir ao quarto de banho

Para os mais esquecidos: 

Tuesday, August 5, 2008

Super Fly!

Dia produtivo hoje. 
Estava numa reunião com o cliente e começou-se a falar do Batman, depois derivou-se para super heróis e finalmente para heróis estúpidos e/ou politicamente incorrectos. Vai daí eu lembrei-me da Superfly, que ninguém conhecia e será eventualmente o mais politicamente incorrecto herói de todos. E quando saí da reunião lá fui procurar a SuperFly. Estivemos uma boa meia hora a rir-nos dos vários cartoons. As cenas violentas desaconselham o visionamento por pessoas mais sensíveis. Este cartoon já tem uns 10 anos (yup, já consigo falar de coisas passadas há 10 anos atrás com a maior naturalidade) mas não consigo parar de me rir de cada vez que me lembro da Superfly: 

- You know who's your daddy?
- I'm your daddy!!
- How come I'm your daddy?
- Because I did it with yo momma!!!
- You do suck! But not as good as yo momma!
- Supafly! Bonsai!




Gostaram? Querem mais? É só ir aqui:
http://www.joecartoon.com/cartoons/channel/4-super_fly

Sunday, August 3, 2008

Vida de consultor é frescura não!

Eu sei que deveria ser mais cauteloso sempre que alguém anuncia algum tipo de facilidades mas acho que faz parte da natureza humana querer acreditar no melhor dos cenários. E assim eu quis acreditar quando me diziam que o 'summer internship' em consultoria seria um 'walk in the park' porque eles querem convencer-nos a aceitar a oferta no final. Pura mentira. Já todos sabem que vida de consultor não é fácil, ou como dizem os zucas, vida de consultor é frescura não! E portanto a vida de um summer também não é fácil.

No caso do meu projecto pelo menos tenho a vantagem do meu manager não gostar de trabalhar aos fins de semana, coisa de que nem todos se podem orgulhar. Mas de segunda a sexta a minha rotina é mais ou menos esta:
6.30 - Despertador apita. Leva murro
6.40 - Despertador volta a tocar e é esmurrado pela segunda vez
6.50 - Despertador toca de novo, é esmurrado e insultado
6.55 - Saio da cama e visto uns calções e uma t-shirt
7.00 - Saio para o gym
8.00 - Sauna e relax
8.30 - Duche
9.00 - Entro no escritório ou apanho um táxi para o cliente
Trabalho, trabalho
14.00 - Alguém se começa a queixar que tem muuita fome e precisa de comer qualquer coisa
14.30 - O mais desesperado toma uma decisão. Pede-se almoço ou saímos para comer qualquer coisa
15.15 - De volta ao trabalho
Trabalho, trabalho
22.00 - Alguém se queixa que tem muita fome
23.00 - Ou pedimos jantar ou vai fechar tudo. Pede-se jantar
23.30 - Chega a comida e o pessoal come
00.00 - Volta ao trabalho
02.00 - Fechamos o dia. Amanhã há mais

As sextas costumam ser mais relaxadas por isso quinta à noite ainda dá para sair e divertir-se por isso no geral dá para sair umas 3-4 noites por semana. E a outra vantagem é que com tão pouco tempo é impossível gastar muito dinheiro. Eles só querem o nosso melhor.

Tuesday, July 22, 2008

The Caipirau

Estou de volta a Boston atrás do meu visto e resolvi pôr de lado a preguiça para escrever um post. Na verdade, nos últimos tempos têm sido mais os horários loucos de trabalho do que a preguiça quem me têm impedido de escrever. Desculpas.


Estava a falar com A. há dias quando ela disse

- I was reading your blog...

- Espera aí, mas como 'reading my blog' se ele está em português?

- Eu uso o google para traduzir. Há coisas que não fazem sentido mas dá para entender o sentido geral do texto. Mas há algumas coisas engraçadas.


Naturalmente, a minha curiosidade impulsou os meus dedos para o teclado 'google.com' e toca a traduzir isto. Deixo algumas pérolas da tradução googliana:


2 de Março
'Filhos da puta dos geeks' é 'Children of a bitch of geeks'

11 de Março
'Com as calças na mão' - 'with the trousers in hand'

20 de Junho
'Fomos à vida' - 'We went to life'

23 de Abril
'Tá heat!'

6 de Março
'Do lado dos democratas, a gaja' passa a 'From the side of the democrats ass'

4 de Abril
'I am a day of anger blogger'

Tuesday, July 1, 2008

Viajar no Brasil. Sugestões?






Estou para aqui a planear as minhas viagens pelo Brasil e resolvi que nada melhor que ouvir opiniões de quem já conhece. Tenho alguns itinerários e não acho que consiga fazer mais de 3 ou 4 até final do inverno por isso sou todo ouvidos para estabelecer um ranking.

Itinerário 1: Natal. Pipa (festa!), Macau, Mossoró (Praia Ponta do Mel), Fortaleza, Canoa Quebrada, Jericoacoara, Delta do Parnaíba, Lençóis Maranhenses, São Luís.

Itinerário 2: Manaus, Tefé, Tabatinga, Manaus, Itacoatiara, Parintins, Santarém, Monte Alegre, Belém.

Itinerário 3: Cambará do Sul, Canela, Gramado e trekking pelo Parque Nacional de Aparados da Serra.

Itinerário 4: Pantanal. Cuiabá, Poconé, Rodovia Transpantaneira, Rio Claro, Cuiabá.

Itinerário 5: Porto Seguro, Arraial d'Ajuda, Salvador, Mangue Seco, Coruípe (Espelho), Chapada Diamantina, Maragori, Carro Quebrado, Recife, Olinda, Tamandaré

Itinerário 6: Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Ilha Grande, Paraty, Sampa

Fico a aguardar sugestões...

O fenómeno da bola

Eu, que acompanho as notícias da lusolândia de longe com leituras apressadas de algum jornal diário, estou um pouco farto dessa categoria de comentadores que despreza o mundo da bola sem se calhar se aperceber que ao exteriorizar o seu desprezo estão também eles a tornar-se parte do fenómeno.

A moda não é nova e surge de cada vez que ocorre algum evento futebolístico de maior importância. Nessa altura vemos esses comentadores a clamar contra o país, o povo, os políticos, o governo, os jornalistas e os comentadores (os outros, claro!) por deixarem os problemas importantes do país para segundo plano e focarem-se no futebol. Claro que isto vem sempre com a expressão 'isto só aqui' que nem sequer é verdadeira porque nos vários países que já conheci acontece o mesmo. Excepção talvez para os Estados Unidos que não têm grandes eventos de selecção com os quais a populaça vibre.

Mas a outra piada deste fenómeno acontece quando Portugal perde, o que sempre aconteceu uma vez que nunca ganhámos nada nestas coisas do futebol de selecção. Invariavelmente, vêm os comentadores fazer todo o tipo de leituras políticas sobre o fenómeno. Desta vez era hilariante ler coisas como que foi uma humilhação para os nossos emigrantes porque perdemos contra as selecções dos que são patrões deles. Por essa leitura, sempre que ganhámos ao Luxemburgo por 6 secos infligimos uma humilhação histórica a esses patrões e os portugueses emigrantes sentir-se-ão de repente recompensados de anos de humilhação. Mas esperem aí, não são estes emigrantes que sempre elogiam os tais patrões e os países que os acolheram e permitiram que reconstruíssem a vida? Pormenores.

Pode ser da distância mas o circo político em Portugal parece-me cada vez mais ridículo, mesquinho e desalentador.

Monday, June 30, 2008

Fazenda Capoava





Este fim de semana estive em Itu, no interior de São Paulo, na fazenda de um amigo. O programa não podia ser melhor: inauguração do campo de futebol. Relvado a estrear e um monte de gente com fome de bola. Claro que não pode haver festa sem churrasco. 

Valeu a pena dormir apenas 4h para acordar cedo no sábado. Chegámos ainda não eram 11h e já se sentia o cheirinho da picanha a sair do espeto. Foi pousar o saco e correr para o campo para o primeiro jogo. O esquema eram jogos de 15 min ou 2 golos. Esquema bota fora e em caso de empate saía a equipa há mais tempo em campo. Nós fizemos uma primeira série de 5 vitórias e 1 empate e depois disso não conseguimos encadear mais do que 2 vitórias. Acho que o cheiro da carne a sair do churrasco e a cerveja e caipirinha frescas eram mais fortes.

O dia acabou com um sambinha e à noite saimos em Itu. Fomos à Zoff onde tínhamos reservado um camarote. Muuiiito bom!

Hoje foi dia tranquilo. Piscina, almoço, sol, sesta e viagem de regresso. A fazenda é espectacular. Tem um rio que a corta a meio, uma piscina ao lado, o campo de futebol, court de ténis. E a paisagem à volta é lindíssima. Muito tranquilo.

Para a semana vou passar o fim de semana noutra fazenda, desta vez num evento da BCG.

Tuesday, June 24, 2008

Sampa, a cidade interrompida

Vinha no assento de trás do táxi com o ruído de fundo do condutor que me falava das maravilhas de Maceió e observava a cidade que passava por mim lentamente, ao ritmo do trânsito de São Paulo. Interrompida foi a palavra que melhor me pareceu descrever o que via.

Interrompida porque entre modernas torres de escritórios com gradeamentos gigantes aparecem prédios detrás de malhas à espera que alguém os acabe. Como se alguém se tivesse arrependido de ter iniciado a obra justamente quando ela estava quase terminada.

Interrompida porque as largas avenidas desembocam invariavelmente em pequenas vielas, ou ruas que parecem vielas porque à escala da avenida que cortam envergonham-se e encolhem-se. Quem desenhou as avenidas com certeza achou que a grandeza da sua obra se deveria sobrepor à pequenez das vias já plantadas mas esqueceu-se que a inarmonia mitiga o tamanho.

Interrompida porque entre os diferentes bairros da cidade não se vislumbram pontes e cada um vive numa ilha com a sua gente e para a sua gente, mirando com desconfiança qualquer via que os tente enlaçar, seja ela uma estrada ou um transporte.

Entretanto, do alto do 19º andar de uma torre no Morumbi eu tento vislumbrar uma harmonia que não encontro. Talvez porque me falte imaginação para arquitectar mentalmente uma cidade contínua. E entretanto esperam-me 40 minutos de viagem para cruzar dez quarteirões. Tudo porque ninguém se lembrou que é difícil fazer uma melodia a partir de retalhos.

Monday, June 23, 2008

A masmorra no boliche


Como aqui foi documentado, sexta passada tivemos happy hour do escritório num bowling (aqui é boliche) em Sampa. Fica aqui um documento fotográfico do evento. Na foto estão os meus companheiros de sala, que internamento tem o sugestivo nome de masmorra. Porquê masmorra? Porque estamos na sala com menos luz do escritório e porque, dada a quantidade de palavras impróprias e asneirada que é trocada cá dentro, a porta está SEMPRE fechada. O que acontece na masmorra fica na masmorra.

Quem inventou a distância não conhecia a saudade

É só isto por hoje

Saturday, June 21, 2008

Grazie a dio

Não, não virei religioso de repente. Assim se chama o sítio onde estive ontem à noite. Grande concerto de funk com mescla de samba. Gostei!
Antes tive a happy hour da BCG. Noite de bowling com toda (ou quase) a galera do escritório. O mais incrível de tudo é que ganhei um jogo, sendo que era a segunda vez que jogava. Boa diversão e muita cerveja.
E hoje tenho janar costa-riquenho...

Friday, June 20, 2008

Fomos à vida

©Getty Images

Venho aqui falar da bola. Mais que nada senão, como de outras vezes, acusam-me de anti-patriota por comentar os feitos dos Boston Celtics e nada da nossa terrinha.

A verdade é que aqui em Sampa a malta torce quase toda pelas quinas. Também é verdade que a maioria torce por Portugal mais pelo Felipão, o Deco e o Pepe que por outra coisa. Mas pensem bem se isso até não é uma jogada de mestre do grande mago do marketing chamado Madaíl. Só as camisolas das quinas a mais que ele vende aqui é uma loucura de receita.

Acontece que que tanto Felipão à minha volta provocou o meu lado de treinador de bancada. E por isso pus-me a dissertar lições tácticas que aqui reproduzo:

1. Não conheço nenhuma equipa que alguma vez tenha ganho alguma coisa com um mau guarda-redes (goleiro aqui no Brasil). Se fosse novidade a gente ainda desculpa o treinador mas depois de ter dado um campeonato ao Benfica, um euro à Grécia e ter sido suplente de uma equipa que andou a lutar pela despromoção em Espanha já não há mais avisos a dar. O goleiro está desculpado, o treinador não. O terceiro da Alemanha é culpa sua (ontem foi só esse mas até ontem as asneiras foram muitas mais).

2. Também não foi por falta de aviso que a Alemanha resolveu explorar a ala esquerda portuguesa, se bem que ontem a direita não esteve melhor. Depois de ter mostrado que nem contra a Suíça era capaz de fazer uma exibição decente, o PF conseguiu ontem fazer pior e ser culpado directo em dois golos alemães. No 1º pode acusar-se o Bosingwa de ingenuidade por não fazer um 'chega lá' ao centrador mas ninguém pode entrar ao 1º poste com essa leveza. No 2º o empurrão não é diferente dos milhares de empurrões na área que sofrem defesas e atacantes em todas as bolas paradas. Também não foi por falta de aviso porque o PF vinha fazendo asneiro desde o 1º jogo (a Turquia só atacou pelo lado direito, a República Checa idem, a Suíça idem). Fica também por saber porque se levou o Jorge Ribeiro ao euro.

3. Pior ainda (porque nos pontos anteriores sempre há quem diga que não temos melhor, o que eu contesto), fica a questão das bolas paradas. No dia anterior tinha ouvido o Felipão a dizer que o grande problema dele era a altura dos jogadores alemães. Aliás, eu que sou um mega sarcástico achei até ofensivo quando ele se referiu aos jogadores portugueses como 'na minha equipa é tudo 1m15, 1m20'. Ou seja, o treinador sabia do problema. Pergunta: se eles são todos altos e nós quase (importantíssimo o QUASE) todos baixos, porque é que insistimos em defender as bolas paradas em homem a homem? Objectivamente, Portugal tinha 5 jogadores em campo com altura razoável (os centrais, PF, CR7 e o Gomes) para quase todos os alemães. Não existe nenhuma combinação de pares que pudesse equilibrar a equação. Ou seja, qualquer defesa homem a homem deixa sempre, no mínimo, 5 alemães em clara vantagem física. Novamente a pergunta: porquê insistir no homem a homem? Também esta variável não veio sem aviso porque Portugal sofreu contra a República Checa e contra a Turquia do mesmo mal e tem vindo a sofrer desse mal há algum tempo. Por curiosidade, lembram-se da selecção do Humberto Coelho ter sofrido tanto com as bolas paradas? E tirando a fase final do Euro Portugal jogava com o Sá Pinto no ataque, que não era exactamente um gigante, e em campo tinha apenas 3 jogadores com alguma altura (centrais e o grande AX).

Portanto, acho que perceberam que aqui o treinador de bancada põe parte da culpa (eu diria um 60%) no treinador. Os jogadores é que jogam e por isso têm parte da culpa mas o treinador é que prepara os jogadores e há erros de palmatória que vêm de longe. Sobretudo quando 2 dos golos em contra vêm de bola parada (ainda hoje me lembro da escassez de faltas no meio campo defensivo do Porto do Mourinho, isso também se treina) e por falhas de marcação.

Wednesday, June 18, 2008

Sobre a politiquice interna

Todos os dias de manhã, na caminhada que faço entre casa e o trabalho, esboço sempre um sorriso quando de repente passo pela rua Jorge Coelho e, logo de seguida, pela Jerónimo Sousa (Jerônimo aqui). Todos os dias fico à espera de ver aparecer a rua Francisco Louçã a qualquer esquina mas nada.

Estava eu a pensar nisso quando hoje lia uma notícia no jornal sobre a proposta do PCP de '7 medidas urgentes' para enfrentar a crise. A vantagem de se ser emigrante é que ganhamos o distanciamento necessário para analisar estas propostas de uma forma mais imparcial. Talvez porque os resultados das mesmas me afectem pouco (aliás, só mesmo efeito emocional indirecto por via da família e amigos). A notícia mereceria considerações mais genéricas sobre a política caseira mas fica isso para outro dia. Por agora a proposta merece comentários específicos. Então as 7 medidas são:

1. Limite de preços de bens essenciais
2. Orientação à CGD para praticar um spread máximo de 0,5 no crédito habitação
3. Subida do salário mínimo e aumento dos salários dos funcionários públicos
4. Subida de 4% das pensões mais baixas
5. Congelamento dos preços dos títulos de transporte
6. Utilização de gasóleo profissional nos transportes públicos
7. Imposto especial sobre os lucros das petrolíferas


Portanto, 6 medidas de gasto e 1 medida de colecta, que não vejo jeitos de cobrir as restantes 6 (talvez esteja a fazer mal as contas). Imagino que, nas visionárias cabeças dos proponentes, as 7 medidas podem ser compaginadas com a manutenção do défice público nos níveis actuais. Mas para o comum (e ignorante diria eu) dos mortais, sempre seria de agradecer que o explicassem como. Também seria bom que algum iluminado me explicasse porque raio impor mais um imposto sobre as petrolíferas iria aliviar a factura da gasolina do cidadão comum, porque na minha cabeça só consigo imaginar as empresas a transpor o imposto para o preço final ao consumidor. Mas eu gosto sobretudo da medida 2. Depois de todos andarem a bater no governo e no PSD por supostamente andarem a dividir pelouros nos principais bancos do país com gravíssimas consequências (e são de facto graves essas ingerências num mercado que se quer concorrencial) vamos lá propor agora umas 'orientações' à CGD. Do tipo 'olhe eu nem me quero ingerir na gestão do banco mas se amanhã esse spread não estiver baixinho o senhor vai prá rua'. Coerência acima de tudo.

Eu nem deveria estar a bater tanto nisto porque do PCP não se deveria esperar outro tipo de proposta. Pelo menos nalguma coisa são consequentes: o Estado a controlar todos os aspectos da vida do cidadão. Hoje são os preços dos alimentos, da gasolina e da habitação, amanhã o da electricidade, depois o dos automóveis e no final o melhor é nacionalizar tudo porque o capital é incompetente para gerir o que quer que seja.

O mais grave é que amanhã virá o PP, depois o PSD, depois o BE e só não vem o PS porque agora está no governo. E todos eles irão propor medidas semelhantes, talvez não tão disparatadas quanto as do PCP (que nesse aspecto tem consistentemente levado a palma nos últimos anos) mas igualmente irrealizáveis e ridículas.

Eu não sei se o povo é estúpido mas pelo menos crédulo é porque continua a ir às urnas votar nestes senhores.

Super ano desportivo em Boston

Joe Murphy/NBAE/Getty Images


Não tivessem os Patriots (futebol à moda americana) perdido a final da NFL depois de uma temporada perfeita (registo de 18 vitórias em 18 jogos até à final, onde perderam com os outsiders NY Giants) e o ano desportivo em Boston teria sido perfeito.

Mesmo assim nada mau. Os Red Sox (baseball) ganharam a World Series (depois de eliminar os arqui-rivais NY Yankees nos quartos), os Bruins (Ice Hockey) chegaram aos playoffs quando ninguém dava um chavo por eles, os acima citados Patriots foram à final do Super Bowl e ontem os Celtics afundaram os Lakers na reedição de um dos duelos com mais história da NBA. O único mau no meio disto tudo foi eu não estar em Boston para poder ir à celebração porque deve ter sido de arromba.

O jogo em si teve pouca história, se bem que à partida todos esperavam uma reacção de LA para lutar até à última pelo título. Errado. Foi uma limpeza total em campo. A coisa ainda esteve algo renhida no primeiro quarter mas a partir aí só deu Boston. 24-20 no primeiro quarter, 58-35 ao intervalo, 89-60 no terceiro quarter para terminar com 131-92. Pelo meio estiveram a um passo de estabelecer a maior diferença de pontos numa final da NBA (está em 42 pontos e a 2 minutos do fim a diferença chegou a 43 pontos).

Go Celtics!!

Monday, June 16, 2008

Ser estrangeiro no Brasil

Depois de uma semana em Sampa devo confessar que raramente me senti tão estrangeiro como nestes últimos dias. Naturalmente vinha avisado das tão faladas dificuldades de comunicação entre lusos e brasileiros, se bem que depois de um ano a conviver diariamente com um zuca sem problemas de maior começaram a parecer-me infundadas as famosas preocupações.

E na realidade, os meus problemas de comunicação com os zucas têm sido poucos, contam-se pelos dedos de uma mão. Isso não impede porém a estranha sensação de ser mais estrangeiro que os estrangeiros que não falam a língua. Acontece de tudo. Gente que me fala em espanhol (e em mau espanhol ainda por cima) sem explicação aparente. Malta que de 10 em 10 palavras me pergunta ‘você entende o que estou falando?’. E porque não se falamos os dois português?

Em particular, tem aqui uma jovem no escritório uma jovem que, ou acha que sou anormal, ou não sabe bem que os portugueses falam a mesma língua que ela, que não por acaso se chama português. A jovem não consegue fazer uma frase sem me perguntar se eu entendo alguma palavra ou expressão. E não julguem que ela fala algum tipo de português estranho. Não senhor, falamos de coisas como ‘torradeira’ ou ‘pular’ entre outras palavras ultra eruditas. Já para não falar da ‘você entende quando nós estamos brincando com a turma?’.Não, em Portugal não existe sentido de humor.

O que tem mais piada no meio disto tudo é que eu recebo tratamento diferenciado, quero eu pensar que VIP, já que nenhum outro estrangeiro por aqui (e estamos a falar de gente que fala mal português e que está ainda a aprender) tem direito a tanto deferimento. Aliás, creio que eu próprio recebi igual tratamento em qualquer país por onde passei e onde, realmente, era um estrangeiro na língua. Brasileirices…