Saturday, November 8, 2008

Irá a crise económica mudar algo nas nossas vidas?

Acho que já poucos negam hoje que estamos em crise. Corrijo. Tirando o nosso PM, já ninguém hoje pensa que não estamos em crise (até o Zapatero finalmente percebeu!). A grande questão que todos se colocam é quais os efeitos de longo prazo que esta crise trará às nossas vidas.

A geração actual habituou-se a gastar mais do que deve e muitas vezes mais do que pode pagar. Os factos são indesmentíveis:
  • A dívida externa americana duplicou nos últimos 20 anos e é hoje 300% do PIB. Em Portugal esse número anda pelos $460 biliões, algo acima dos 200% do PIB, o que nos coloca no Top20 dos países mais endividados em termos absolutos (não exactamente algo de que nos possamos orgulhar).
  • As famílias poupam cada vez menos, isto quando chegam a poupar alguma coisa. Em Portugal o endividamento das famílias era de 130% há um ano.
  • Alegremente, os países ocidentais vivem à custa da generosidade de países emergentes, como a China, que continua a emprestar dinheiro a rodos. Na última década, a proporção de dívida pública americana detida por estrangeiros passou de 20% para 60%.
Como isto agora rebentou, e nem sequer pelas melhores causas já que foi mais por uma crise de confiança que por um problema efectivo de sobre aquecimento, não faltam profetas que já vêem mudanças civilizacionais a sair desta crise.

Apesar da crise estar para durar mais algum tempo (apostei esta semana que os mercados se começarão a levantar para finais de 2009), eu quase ponho as minhas mãos no fogo que pouco ou nada irá mudar no estilo de vida das pessoas. Talvez os bancos tardarão a voltar a emprestar com a facilidade com que o faziam até agora, mas uma vez assentada a poeira tudo voltará ao mesmo. E se não for a China a emprestar, outro virá para sustentar o estilo de vida ocidental.

O curioso das crises é que, apesar de repetirem os mesmos padrões ao longo dos tempos, quando que acontece uma é sempre a pior, mais devastadora e definitivamente aquela que irá mudar o paradigma actual. Não sei se ainda se lembram que esta crise tinha matado o capitalismo. Isso era só há um mês atrás e era capa da Economist, que não é exactamente o Tal & Qual. No entanto o capitalismo continua vivo, algo cambaleante ainda mas sem dúvida fora da UCI.

No fundo as crises económicas são a expressão mais viva de que o capitalismo é darwiniano: “It is not the strongest of the species that survives, nor the most intelligent that survives. It is the one that is the most adaptable to change”. E curioso ainda que normalmente as primeiras a morrer são aquelas que cometeram os mesmos erros que, depois da última crise, todos juraram não voltar a cometer. E sobre isso recomendo a leitura deste artigo sobre a crise em Silicon Valley.

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