Todos os dias de manhã, na caminhada que faço entre casa e o trabalho, esboço sempre um sorriso quando de repente passo pela rua Jorge Coelho e, logo de seguida, pela Jerónimo Sousa (Jerônimo aqui). Todos os dias fico à espera de ver aparecer a rua Francisco Louçã a qualquer esquina mas nada.
Estava eu a pensar nisso quando hoje lia uma notícia no jornal sobre a proposta do PCP de '7 medidas urgentes' para enfrentar a crise. A vantagem de se ser emigrante é que ganhamos o distanciamento necessário para analisar estas propostas de uma forma mais imparcial. Talvez porque os resultados das mesmas me afectem pouco (aliás, só mesmo efeito emocional indirecto por via da família e amigos). A notícia mereceria considerações mais genéricas sobre a política caseira mas fica isso para outro dia. Por agora a proposta merece comentários específicos. Então as 7 medidas são:
1. Limite de preços de bens essenciais
2. Orientação à CGD para praticar um spread máximo de 0,5 no crédito habitação
3. Subida do salário mínimo e aumento dos salários dos funcionários públicos
4. Subida de 4% das pensões mais baixas
5. Congelamento dos preços dos títulos de transporte
6. Utilização de gasóleo profissional nos transportes públicos
7. Imposto especial sobre os lucros das petrolíferas
Portanto, 6 medidas de gasto e 1 medida de colecta, que não vejo jeitos de cobrir as restantes 6 (talvez esteja a fazer mal as contas). Imagino que, nas visionárias cabeças dos proponentes, as 7 medidas podem ser compaginadas com a manutenção do défice público nos níveis actuais. Mas para o comum (e ignorante diria eu) dos mortais, sempre seria de agradecer que o explicassem como. Também seria bom que algum iluminado me explicasse porque raio impor mais um imposto sobre as petrolíferas iria aliviar a factura da gasolina do cidadão comum, porque na minha cabeça só consigo imaginar as empresas a transpor o imposto para o preço final ao consumidor. Mas eu gosto sobretudo da medida 2. Depois de todos andarem a bater no governo e no PSD por supostamente andarem a dividir pelouros nos principais bancos do país com gravíssimas consequências (e são de facto graves essas ingerências num mercado que se quer concorrencial) vamos lá propor agora umas 'orientações' à CGD. Do tipo 'olhe eu nem me quero ingerir na gestão do banco mas se amanhã esse spread não estiver baixinho o senhor vai prá rua'. Coerência acima de tudo.
Eu nem deveria estar a bater tanto nisto porque do PCP não se deveria esperar outro tipo de proposta. Pelo menos nalguma coisa são consequentes: o Estado a controlar todos os aspectos da vida do cidadão. Hoje são os preços dos alimentos, da gasolina e da habitação, amanhã o da electricidade, depois o dos automóveis e no final o melhor é nacionalizar tudo porque o capital é incompetente para gerir o que quer que seja.
O mais grave é que amanhã virá o PP, depois o PSD, depois o BE e só não vem o PS porque agora está no governo. E todos eles irão propor medidas semelhantes, talvez não tão disparatadas quanto as do PCP (que nesse aspecto tem consistentemente levado a palma nos últimos anos) mas igualmente irrealizáveis e ridículas.
Eu não sei se o povo é estúpido mas pelo menos crédulo é porque continua a ir às urnas votar nestes senhores.
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