Vinha no assento de trás do táxi com o ruído de fundo do condutor que me falava das maravilhas de Maceió e observava a cidade que passava por mim lentamente, ao ritmo do trânsito de São Paulo. Interrompida foi a palavra que melhor me pareceu descrever o que via.
Interrompida porque entre modernas torres de escritórios com gradeamentos gigantes aparecem prédios detrás de malhas à espera que alguém os acabe. Como se alguém se tivesse arrependido de ter iniciado a obra justamente quando ela estava quase terminada.
Interrompida porque as largas avenidas desembocam invariavelmente em pequenas vielas, ou ruas que parecem vielas porque à escala da avenida que cortam envergonham-se e encolhem-se. Quem desenhou as avenidas com certeza achou que a grandeza da sua obra se deveria sobrepor à pequenez das vias já plantadas mas esqueceu-se que a inarmonia mitiga o tamanho.
Interrompida porque entre os diferentes bairros da cidade não se vislumbram pontes e cada um vive numa ilha com a sua gente e para a sua gente, mirando com desconfiança qualquer via que os tente enlaçar, seja ela uma estrada ou um transporte.
Entretanto, do alto do 19º andar de uma torre no Morumbi eu tento vislumbrar uma harmonia que não encontro. Talvez porque me falte imaginação para arquitectar mentalmente uma cidade contínua. E entretanto esperam-me 40 minutos de viagem para cruzar dez quarteirões. Tudo porque ninguém se lembrou que é difícil fazer uma melodia a partir de retalhos.
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