Espero que os psicólogos me perdoem mas vou sentar Portugal no divã e tentar traçar o quadro patológico. Começo por eliminar o ruído, os tiques comuns a todos os países que eu conheço, apesar de nós (e os outros) dizermos “Isto só aqui”. E o ruído inclui dizer mal dos políticos, não importa a sua valia ou o que possam ter feito, pensar que somos os maiores antes do Mundial e os piores depois de perder, gostar de espreitar pela fechadura da porta do vizinho, olhar para os resultados de curto prazo mas dizer que o importante é o longo prazo. Estarei com certeza a esquecer-me de outros mas penso que estes são os importantes.
Então o que resta? Posso resumir o problema a quatro manifestações primárias. Decidi eliminar sintomas típicos da vasta cultura latina e que são comuns a outras nações. E ao mais puro estilo consultor, penso que estas quatro manifestações cumprem a regra MECE (mutuamente exclusivas e colectivamente exaustivas).
Classista. No fundo, toda a gente gostava de estar numa monarquia onde, naturalmente, deteria algum título nobiliárquico. Como estamos numa república vingamo-nos nos Dr, Eng, Arq e afins para, obviamente, espezinhar aqueles que são simples Sr. E sempre que tem oportunidade, o português lá envia mais um sinal à sociedade que está num patamar superior: seja o carro maior que o vizinho, o gabinete 2 metros maior ou o dente de ouro.
Queixinhas. Poderíamos dizer também negativo. Não é pessimismo e nem sequer sentido critico, é puro queixismo. Como dizia o Lourenço Viegas, antes um tubo pelo rabo a dizer que alguma coisa vai bem na vida. Dizer mal pelo prazer de dizer mal. É uma das características que mais odeio numa pessoa, a auto-complacência à espera da compaixão alheia. Não terão a minha.
Passivo. O português queixa-se mas não faz nada por mudar. Acomoda-se e continua a queixar-se. Diz mal do carro novo do vizinho mas não pensa como pode conseguir um igual. É governado por um ditador mas não o tenta derrubar. Tem um emprego de merda mas não procura um novo. E vai olhando para a sua aparente ou real desgraça como se de uma fatalidade se tratasse.
Medroso. Não se fazem as coisas por aquilo que pode correr mal. Há quem lhe chame pessimismo ou aversão ao risco, eu chamo medo. E distingo entre um corajoso e um temerário. Ninguém pede temerários, apenas corajosos. Aos medricas pode-lhes acontecer duas coisas: nada ou borrar-se nas calças. Mais tipicamente acontece o primeiro e obviamente quando nada se faz nada acontece. E virá alguém dizer: também não acontece nada de mau. Ao que eu respondo: o problema é que não acontece nada de bom. E um tipo corajoso sabe avaliar quando é que as probabilidades de acontecer algo negativo são demasiado altas para arriscar o pelo.
Naturalmente que os portugueses têm imensos aspectos positivos, mas estes quatro representam um forte lastro que têm, em minha opinião, atrasado o país de forma considerável.
As boas notícias é que estes aspectos são reversíveis, pelo menos na opinião do optimista que eu reconheço que sou. Como? Chama-se educação. É possível educar as nossas crianças a ter uma atitude positiva, pró-activa e corajosa. E se nas escolas se perder a fleuma e se criar uma relação de maior proximidade entre professores e alunos também estaremos a ajudar a remover o sistema de classes.
Enquanto isso não acontecer eu não vejo possível reverter um ambiente económico e social depressivo onde dificilmente as empresas podem ser competitivas. Porque as empresas são, em última análise, pessoas. E quando entramos no ciclo vicioso da queixa, atitude passiva, medo dificilmente se consegue transformá-lo num ciclo virtuoso. Individualmente é possível, basta querer e tentar. Mas a nível de uma sociedade é complexo.
Fica a reflexão.
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