Regressei há umas horas de Israel e encontrei aí um país em estado geral de paranóia. Não importa com quem se fale, religioso ou não, nascido no país ou na diáspora, radical ou moderado, ninguém consegue evitar falar de ataque iminente, provável guerra, terroristas, etc. Todos vivem em permanente alerta e sobressalto e isso é visível por onde quer que se ande. Nos jovens com metralhadoras a passear calmamente na rua (são soldados em férias segundo dizem, mas um soldado nunca abandona a sua arma). No esforço por manter o país preparado a todo o momento para a guerra (serviço militar obrigatório para todos os cidadãos e um mês por ano de treino militar quando passam à reserva). Mas também em aspectos mais corriqueiros como os guardas armados à porta de qualquer hotel, bar ou discoteca ou a segurança absurda nos aeroportos que me fez perder 2 vôos e passar mais de 4h em interrogatórios de seguranca (parece que visitar Marrocos me transforma em potencial terrorista).
Depois de visitar Israel fiquei mais convencido que a criação de um estado judaico foi um erro colossal sem justificação histórica. A vontade do ocidente em sacudir o sentimento de culpa originou um conflito insanável na região e um ódio que antes não existia, já que historicamente os judeus sempre viveram em harmonia com os palestinianos e com as diferentes facções muçulmanas da região. Para se criar um estado judaico expulsou-se um povo da sua terra e criou-se um enclave artificial que vive de costas voltadas para os seus vizinhos porque aceitar as suas petições seria negar o princípio da sua existência.
Israel vive hoje um dilema estranho, já que os que agora nascem no país pertencem a uma geração que, pela primeira vez, não tem um contacto próximo com o holocausto (os pais não o viveram e os avós ou estão mortos ou são uma memória distante). E o país vê-se na obrigação de "ensinar" aos seus cidadãos a dimensão do holocausto para assim poder continuar a justificar a sua existência. A visita ao museu do holocausto em Jerusalém foi aterradora no sentido em que aí é feita uma total lavagem cerebral ao visitante. Os menos informados ficam a saber que desde os tempos antigos os judeus são um povo perseguido, que todo o mundo odeia os judeus e o holocausto foi apenas a expressão desse ódio. Ninguém nega que o holocausto foi uma catástrofe humana com poucos ou nenhum precedente mas será que isso justifica a criação de um país à custa da expulsão de um povo da sua terra natural? Quantos povos foram e são perseguidos até hoje? Quantos mereceram tal tratamento?
A outra questão interessante tem a ver com a sua fundação. Israel foi fundado como um estado democrático judaico, de onde me salta à vista uma contradição. Como pode um estado religioso ser democrático? Pode um cristão ou um muçulmano (que são hoje 20% da população) ser presidente? Ninguém responde porque, supreendentemente, Israel não tem uma constituição. Aparentemente os religiosos não permitem a redacção de uma constituição porque a única constituição de um estado judaico é, naturalmente, o livro sagrado. Faz sentido mas reforça as minhas dúvidas. E o problema com que se depara o país vem daí. Acontece que os 20% não judeus são esmagadoramente de classe baixa (porque a religião define a classe do cidadão) e, como é natural nestas coisas, têm mais filhos por família que os judeus. Resultado, estima-se que em 2050 os judeus deixem de ser maioria no país. O que fazer então? Continuará a fazer sentido manter um estado "democrático" judaico? E quem governará esse estado? Será que a minoria judaica continuará "democraticamente" a governar? Obviamente que a manutenção de um estado judaico obriga a que sejam os judeus a governá-lo porque no dia em que um muçulmano chegar ao poder Israel voltará a ser Palestina.
E portanto eu retomo a pergunta original. Será que vale a pena criar um país para que este desenvolva uma paranóia nacional? Será que os judeus estão mais seguros hoje do que estavam antes da guerra quando conviviam naturalmente com todos os povos incluindo aqueles que agora os odeiam?
1 comment:
E fotos há?
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