Thursday, April 24, 2008

De volta da Colômbia

Bogotá, centro histórico


Relax na Isla del Rosario


Cartagena dentro das muralhas

Venho bastante impressionado da Colômbia. Esperava um país mais pobre, mais inseguro e mais desordenado do que aquele que encontrei. Bogotá é uma cidade caótica com 10 milhões de habitantes a usar ostensivamente o carro para se deslocar, o que provoca um completo desastre de trânsito na cidade. Chegar a qualquer lado demora uma eternidade. Apesar disso a cidade é bastante segura e limpa e o centro histórico é maravilhoso. Museus muito interessantes, uma excelente colecção de Botero, um museu do Ouro muito bem montado e o estilo colonial por todos os lados.

Cartagena é uma cidade mais turística e muito mais pequena. A cidade dentro das muralhas é uma preciosidade. Extremamente bem conservada, novamente o estilo colonial presente com uma combinação de cores apaixonante.

As Islas del Rosario são um mundo aparte. Areia branca, água entre o verde e o azul mas sempre transparente, temperatura perfeita. É difícil voltar...

Deixo aqui as primeiras fotos da parte mais turística :) 

Tá calor!

Estão 30º (dos centígrados entenda-se) em Boston! Até já se vêem árvores com flores e tudo! É sempre bom chegar de uma viagem com praia e calor e não sentir o habitual choque térmico que sempre nos aguarda nesta zona. A Primavera chegou finalmente a Boston! Com um mês de atraso mas perdoa-se.

Thursday, April 17, 2008

De partida para a Colômbia

Este blog vai de férias. Daqui a umas horas saio para a Colômbia. É só uma semaninha :) Bogotá, Cartagena, Islas del Rosario e mais uns trocos. Já virão por aí as fotos.

Tuesday, April 15, 2008

Foi você que pediu um MBA?

O top 5 das deixas preferidas dos meus amigos quando se dignam a falar comigo é o seguinte:
1. Estás a fazer um MBA em turismo?
2. Isso é que é boa vida. E a malta aqui a sofrer...
3. Mas tu algumas vez estudas?
4. Eu também gostava de fazer um MBA.
5. %$&*^$@^#$

E eu até tenho pensado se de facto eles têm razão. Olhei para a coluna da direita do blog e eis o top 5 dos assuntos:
1. Viagens (13 posts)
2. Boston (12 posts)
3. Festa e MBA ex-aequo (11 posts)
5. MIT (10 posts)

Ora este top contraria alguns dos comentários. Se bem que viagens e festa estão bastante bem colocados, MBA aparece no em 3º o que revela um equilíbrio entre trabalho e lazer que é saudável. Portanto, respondendo à deixa nº3: Sim, eu também estudo. Quando à deixa nº1 eu respondo: um MBA não tem especialização, eu saio daqui com um MBA e ponto. Não existem MBA's nisto ou naquilo.

Quanto às deixas nº2, nº4 e nº5 elas são tipicamente tugas. Aquele gajo é que tem sorte, eu sou um pobrezinho, nós somos uns sofredores. Querem fazer um MBA? Nada mais fácil. Estudem o GMAT, escrevam os ensaios necessários, candidatem-se. O problema 'graveto' não existe num MBA, não por acaso as candidaturas são 'cegas' no que respeita à situação financeira do candidato. Portanto quem se queixa é porque tem preguiça de se candidatar ou está acomodado ao seu sofrimento.

Já agora as deixas preferidas quando eu uso este último argumento são:
1. Isso é muito fácil dizer
2. Eu tenho uma casa para pagar
3. A minha situação actual não me permite

Resposta? Bullshit!! É muito fácil dizer e concerteza muito mais difícil fazer, não por acaso me custou dois anos para entrar. Portanto para estes vejam o argumento 'preguiça'. Para os demais, bullshit! Uma casa vende-se, uma situação que os leva a queixar-se diariamente não permite o quê? Aspirar a uma situação melhor?

Resumindo. Foi você que pediu um MBA? Trabalhe para isso! Ah! E com este post MBA passa para o 3º lugar isolado na lista de assuntos :)

Monday, April 14, 2008

Acho que tenho um problema

Cheguei de Israel no dia 1. Hoje é dia 14 pelo que levo 14 dias seguidos a beber algum tipo de álcool em quantidades interessantes. E hoje tenho um jantar, amanhã uma festa, quarta jantar e festa e quinta parto para a Colômbia onde o ritmo não deve exactamente abrandar. Será que tenho um problema?

A Gaja, destino final

Certas substâncias, quando ingeridas em excesso, têm o condão de nos porem a dissertar sobre assuntos absurdos a horas pouco recomendáveis e com conclusões no mínimo dúbias. Foi isso que nos aconteceu este passado domingo. Depois de ver '21', influenciados pelas imagens de Vegas ainda bem presentes da nossa última viagem, eis que a conversa começou a desviar para temas de saias e calças (porque o grupo era misto e todos têm direito à palavra).

A determinada altura eis que alguém se sai com esta:
- Os homens vivem para ter mulheres, é esse o objectivo último em qualquer decisão que um homem toma na sua vida.

Houve um longo silêncio (enfim, o grupo estava lento já por si) e eis que o autor continua a desenvolver 
- Repara. Porque é que um gajo joga futebol na escola? Porque as gajas gostam dos jogadores da bola. Porque é que aprendes a tocar guitarra ou piano? Porque as gajas acham isso romântico. Porque é que queres um emprego bem pago? Para poder ter mais gajas. Porque é que vens para um MBA? Para poderes conhecer mais gajas. Tudo gira à volta delas. Todas as decisões importantes que um homem toma na vida é para ter acesso a mais gajas.

O silêncio voltou à sala e ninguém disse mais nada. Não sei se isso foi uma forma de anuir ou simplesmente o estado geral do grupo. Eu ainda estou a pensar sobre o assunto.

21 the movie

Hoje fui ver o filme '21' sobre os gajos do MIT que fizeram vários milhões de dólares nos casinos de Las Vegas a jogar Black Jack. Tinha lido o livro há uns meses e estava curioso por ver o filme. Tirando as cenas filmadas aqui (basicamente cenas de exteriores), os casinos de Vegas e o básico da história (uns gajos que fazem dinheiro a jogar black jack) nada mais tem a ver com o livro.

Em resumo, e não querendo antecipar o filme, na versão escrita há muito mais dinheiro em jogo, muito mais putas envolvidas, e muito menos suspense e violência. Coisas das adaptações... Mas vale a pena.

O baseball está de volta

A época de baseball está de volta há algumas semanas mas estes últimos dias foram de clássico em Boston com a recepção aos Yankees. Os Red Sox perderam o primeiro jogo mas refizeram-se e ganharam os seguintes dois. E a multidão volta a vibrar no Fenway Park. E se já habitualmente era difícil conseguir bilhetes, depois da vitória no ano passado agora um bilhete é uma verdadeira raridade. Mas a malta tem-se safado no mercado negro (quer dizer, no mercado de revenda).

Destes primeiros jogos da época temos reparado numa curiosidade dos fãs (em especial das fãs). São todas umas chibas do pior, parece que o verdadeiro fã de baseball tem que estar acima dos 100 kg. Em parte isso não surpreende porque se os jogadores, que supostamente são atletas, já são maioritariamente bastante anafados, os fãs que não correm a ponta dum chavo e passam as 5h de jogo a comer cachorros e beber cerveja... Está-se a ver.

Friday, April 4, 2008

E por fim as fotos

Estou em dia de fúria bloguista! Já aí vão uns quantos posts. Este aqui é levezinho de texto, é só bonecos para quem gosta pouco de ler. E vai com legendas. E em ordem cronológica.

1. Festa em Jerusalém. O meu disfarce perdeu-se no meio da festa...
2. Caesarea, cidade Heródica (do Rei Herodes portanto) a norte de Tel Aviv
3. Os fenomenais jardins Bahai em Haifa
4. Festa em Tel Aviv
5. O mar da Galileia, que na verdade é apenas um laguinho grandote
6. A Igreja da anunciação em Nazaré
7. A malta a flutuar no Mar Morto
8. As babes e um intruso com lama do Mar Morto, deixa a pele muito suavezinha...
9. 6h da matinha em Mossada depois de 1h de caminhada até ao topo do monte para ver o nascer do sol. Valeu a pena
10. O Je e a Jean de costas para o nascer do sol em Mossada e com o Mar Morto em fundo. Very nice!
11. Dois anormais no deserto da Judeia 

Shannie

Shannie era o nosso guia. Sem dúvida a viagem não teria tido metade do interesse nem metade da piada se não fosse por ele. Judeu não religioso, tinha uma perspectiva da religião muito sui generis mas bastante independente. Exemplo.

- Jewish, Christians and Muslims, they all come from the same crap. And they all established Jerusalem as a holly city, and that is why this is the mess you know. So the difference among these religions is about who they consider to be fool or not. The jews recognize 48 male prophets and 7 women prophets. Those are the Abrahamic prophets. So everyone who came after these is either crazy or a fool and we should kill him. Then the Christians say that all those prophets are truly prophets but Jesus is the last prophet. So everyone who comes after Jesus and claims to be a prophet is either crazy or a fool and we should kill him. And then came the Muslims and say. You're right, all those guys are prophets but the last prophet is Muhammad. Everyone who comes after Muhammad and claims to be a prophet is either crazy or a fool and we should kill him.

Perspectiva interessante. O Shannie tem outras pérolas interessantes mas as religiosas eram quase sempre as melhores.

- You know why jews are circumcised on the 8th day? Because on the 9th they have an opinion.

Um grande hip! hip! hurra! para o Shannie!

shekel! shekel! rrrrrrrrrrrrr!!!

O episódio mais caricato que tive em Tel Aviv aconteceu, como não, num táxi. Era hora de almoço e queríamos ir da praia para o centro. Tinham-nos dito que o melhor sítio de humus no mundo ficava em Yafa, o centro antigo de Tel Aviv que nada tem a ver com a cidade moderna cheia de torres de escritórios. Yafa é, na realidade, uma cidade mais asiática que europeia, tal como as pessoas que aí vivem.

Chamamos um táxi e dizemos para onde queremos ir. O Derek, que vai no lugar do morto, esforça-se por convencer o motorista a ligar o taxímetro que aqui ninguém é lorpa. A insistência parece irritar o motorista que então começa um monólogo
- I turn the meter on! Don't worry my friend. I turn the meter on and I take you to Gaza! Ha! Ha! Ha! I take you to Gaza, nice beaches in Gaza. You like the beach? So you like Gaza!
- Primaço faz lá as piadinhas que queiras mas começa a andar que estou a ficar com fome.
E pelo caminho o nosso motorista mostrou ser o mestre do telemóvel. Em 10 minutos conseguiu manter 6 conversas em paralelo. Para nós, ignorantes em hebraico, a coisa soava a:
- shekel! shekel! shekel!
E terminava as conversas com um sonoro 
- rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!
Como se fosse dizer "raios ta partam" mas sem sair do r. Gente doida!

I take care of you, crazy Europeans!




O último dia da viagem foi passado em Petra, Jordânia, a cidade com 2000 anos escavada na rocha e cenário de vários filmes, incluindo um dos Indiana Jones. A viagem foi decidida à última hora. No hotel em Eilat diziam-nos que um tour de um dia a Petra custava uns 200 dólares. Decidimos que tinha mais piada fazê-lo à revelia das excursões de velhos reformados apesar dos avisos no hotel de que era perigoso e eventualmente nem conseguiríamos passar a fronteira. Jovem, estamos a falar de gente que atravessou a Palestina de norte a sul, perigo??

O mais duro foi levantar-me às 6 da matina depois de ter chegado da noite às 4h30 e não exactamente no melhor estado. Lá me arrastei até ao táxi que nos levou até à fronteira e conseguimos chegar ao posto de controlo de passaporte mesmo antes de uma 500 mil alemães de lancheira na mão e fitinha de resort no pulso. Não, definitivamente isso não é para mim. O processo "complicado" para passar a fronteira demorou... 15 minutos. Carimbo aqui, taxa de fronteira ali, abraço ao gajo da fronteira, foto com o outro da metralhadora dentro do Hummer e estamos na Jordânia. 

E agora? Isto é um bocadinho deserto. Quer dizer, é mesmo deserto. Um primaço veio ter connosco.
- I take care of you. Where do you want to go?
- Petra
- I take care of you. Come with me.
- Primaço, mais calminha. How much?
- 120 dinnars go and return. i wait there for you
- 120? E apanhar no rabinho não? Népia, 80 dinnars e não se fala mais nisso.
- 80? Are you crazy? I have six children to take care, you're robbing me!
- Chora chora meu menino, 80 dinnars
- 90 dinnars and it's price for friends
- So let's go my friend

É preciso dizer que o Jameel, o nosso motorista, foi de facto impecável. Fomos a casa dele, conhecemos a mulher, trocamos para um carro maior e lá fomos para Petra. No caminho ainda nos ofereceu um café turco e um chá das arábias num café isolado no meio do deserto e continuamos. I take care of you. E lá nos foi contando coisas sobre a Jordânia, sobre como o país tem progredido mesmo sem ter petróleo numa região onde todos têm petróleo. Sobre como o novo rei é um panasca comparado com o pai. Sobre como os israelitas que vêm à Jordânia de carro têm que mudar de matrícula na fronteira senão seriam crucificados já que a maioria da população é palestiniana. Sobre como os jordanos são de origem beduína apesar de poucos serem já nómadas (se bem que nós vimos porradas e porradas de tendas habitadas no deserto).

Petra é espectacular. 5h de caminhada incluindo uma subida ao templo em burro. No regresso o Jameel queria levar-nos a almoçar.

- Very nice restaurant, very good food
- Good for tourists?
- Yes! Good for tourists?
- We don't want that. We want a place for locals.
- This restaurant is very nice. From a friend. He will do a good price.
- No, we want a shady place where only locals go.
- The girl is fine with that?
- Absolutely
- Crazy Europeans! I'll take you to a friend's place. Best kebab and turkish chicken.
- Perfect!

E lá fomos nós para a tasca do amigo do Jameel comer kebab e turkish chicken. Escusado dizer que quarto de banho era grupo e mal conseguimos passar as mãos por água. Como tudo se comia à mão acho que soube melhor até, sobretudo das nossas mãozinhas terem andado a passear pelo lombo do burro. A comida era de facto muito boa. E no fim lá voltámos à fronteira porque o sol começava já a cair.

Portanto já sabem. Se querem ir à Jordânia, esqueçam os tours. O país é completamente seguro e a gente ultra simpática e acolhedora. E se forem e quiserem falar com o Jameel, liguem para o 00962-779783148 e digam que vão da minha parte.

Wednesday, April 2, 2008

Israel Itinerário

Porque alguém perguntou o itinerário, aqui fica o mapa e as principais atracções.
Dias 1-3 - Jerusalém
Dias 3-5 - Tel-Aviv e Caesarea
Dia 6 - Haifa, Galileia, Nazaré
Dia 7 - Montes Golã, Vulcão Ben-Tal
Dias 7-9 - Mar Morto
Dias 9-11 - Eilat
Dia 12 - Petra (Jordânia)

Israel Dia 1



A chegada a Israel não podia ter sido mais atribulada. Mau tempo em New York, vôos atrasados, ligações perdidas. Resultado, cheguei a Tel-Aviv 24h depois do previsto. À minha espera estava a Dana e lá fomos a caminho de Jerusalém depois de regatear por uns largos 2 minutos o preço do táxi. Tempo fantástico, sol, temperatura a rondar os 30 graus, conversa a girar em torno da bola.

Jerusalém é uma cidade de contrastes. Como capital do país, a primeira imagem que nos deixa é de uma cidade moderna, limpa, organizada. Porém, essa é uma imagem que nada tem a ver com a velha Jerusalém, a que existe dentro das muralhas, aquela que os turistas vêm ver e que esconde uma história interminável de lutas sobretudo religiosas que finalmente acabou por dividir a cidade em quatro bairros: judeu, muçulmano, cristão e arménio.

Chegámos a Jerusalém na noite de Purim. Demasiado longo para explicar, o que importa é que a malta se mascara toda e há festa rija. Entretanto a loucura instala-se no mercado. Estamos numa sexta-feira a escassas horas do shabbat, quando os judeus deixam de fazer a ponta dum corno. Como tal tudo tem que ser vendido até ao pôr do sol. Um homem com a cabeça coberta de morangos grita furiosamente tentando impor a sua voz por cima da concorrência. Nós dedicamo-nos a comer casca de laranja seca. E o dia acabou com festa, muito álcool e toda a gente feliz de regresso ao hotel.

Tuesday, April 1, 2008

Israel, Estado Paranóico

Vale a pena viver quando a existência nos obriga a olhar permanentemente por detrás das costas à espera que a todo o momento alguém nos dispare um tiro fatal? Vale a pena lutar por sermos paranóicos?

Regressei há umas horas de Israel e encontrei aí um país em estado geral de paranóia. Não importa com quem se fale, religioso ou não, nascido no país ou na diáspora, radical ou moderado, ninguém consegue evitar falar de ataque iminente, provável guerra, terroristas, etc. Todos vivem em permanente alerta e sobressalto e isso é visível por onde quer que se ande. Nos jovens com metralhadoras a passear calmamente na rua (são soldados em férias segundo dizem, mas um soldado nunca abandona a sua arma). No esforço por manter o país preparado a todo o momento para a guerra (serviço militar obrigatório para todos os cidadãos e um mês por ano de treino militar quando passam à reserva). Mas também em aspectos mais corriqueiros como os guardas armados à porta de qualquer hotel, bar ou discoteca ou a segurança absurda nos aeroportos que me fez perder 2 vôos e passar mais de 4h em interrogatórios de seguranca (parece que visitar Marrocos me transforma em potencial terrorista).

Depois de visitar Israel fiquei mais convencido que a criação de um estado judaico foi um erro colossal sem justificação histórica. A vontade do ocidente em sacudir o sentimento de culpa originou um conflito insanável na região e um ódio que antes não existia, já que historicamente os judeus sempre viveram em harmonia com os palestinianos e com as diferentes facções muçulmanas da região. Para se criar um estado judaico expulsou-se um povo da sua terra e criou-se um enclave artificial que vive de costas voltadas para os seus vizinhos porque aceitar as suas petições seria negar o princípio da sua existência.

Israel vive hoje um dilema estranho, já que os que agora nascem no país pertencem a uma geração que, pela primeira vez, não tem um contacto próximo com o holocausto (os pais não o viveram e os avós ou estão mortos ou são uma memória distante). E o país vê-se na obrigação de "ensinar" aos seus cidadãos a dimensão do holocausto para assim poder continuar a justificar a sua existência. A visita ao museu do holocausto em Jerusalém foi aterradora no sentido em que aí é feita uma total lavagem cerebral ao visitante. Os menos informados ficam a saber que desde os tempos antigos os judeus são um povo perseguido, que todo o mundo odeia os judeus e o holocausto foi apenas a expressão desse ódio. Ninguém nega que o holocausto foi uma catástrofe humana com poucos ou nenhum precedente mas será que isso justifica a criação de um país à custa da expulsão de um povo da sua terra natural? Quantos povos foram e são perseguidos até hoje? Quantos mereceram tal tratamento?

A outra questão interessante tem a ver com a sua fundação. Israel foi fundado como um estado democrático judaico, de onde me salta à vista uma contradição. Como pode um estado religioso ser democrático? Pode um cristão ou um muçulmano (que são hoje 20% da população) ser presidente? Ninguém responde porque, supreendentemente, Israel não tem uma constituição. Aparentemente os religiosos não permitem a redacção de uma constituição porque a única constituição de um estado judaico é, naturalmente, o livro sagrado. Faz sentido mas reforça as minhas dúvidas. E o problema com que se depara o país vem daí. Acontece que os 20% não judeus são esmagadoramente de classe baixa (porque a religião define a classe do cidadão) e, como é natural nestas coisas, têm mais filhos por família que os judeus. Resultado, estima-se que em 2050 os judeus deixem de ser maioria no país. O que fazer então? Continuará a fazer sentido manter um estado "democrático" judaico? E quem governará esse estado? Será que a minoria judaica continuará "democraticamente" a governar? Obviamente que a manutenção de um estado judaico obriga a que sejam os judeus a governá-lo porque no dia em que um muçulmano chegar ao poder Israel voltará a ser Palestina.

E portanto eu retomo a pergunta original. Será que vale a pena criar um país para que este desenvolva uma paranóia nacional? Será que os judeus estão mais seguros hoje do que estavam antes da guerra quando conviviam naturalmente com todos os povos incluindo aqueles que agora os odeiam?